Viajar com gatos...
Bom dia meus queridos leitores, venho hoje nesta quinta-feira maravilhosa relatar minha experiência com o meu gatinho Chicó, ele tem apenas cinco meses mas já é um Lord. É preciso dizer que Chicó não é um gato comum, ele é um ser muito evoluído e que contradiz muito do que se sabe sobre os gatos. Pois bem, minha primeira viagem com o Chicó foi uma experiência inusitada com uma contagem de quase oito horas de estrada rumo à casa dos meus pais.
Chicó não quis ficar na sua casinha de transporte adequada e dentro da lei, ele começou a fazer muito drama e não aguentou nem vinte minutos preso naquela gaiola, o que me fez abrir mão da lei e deixá-lo à vontade em meu colo durante toda a viagem. A bem da verdade é que ele não deu trabalho algum em todo o trajeto, ele só miou no primeiro momento, depois ficou tranquilo e muito à vontade com toda aquela situação. Nós paramos duas vezes pra ele comer, beber água, fazer suas necessidades, e ele estava super tranquilo, não se assustou, nem tentou fugir, apenas estava curioso com as coisas ao seu redor, algo normal pra alguém que viaja pela primeira vez.
A dificuldade começou quando chegamos na casa da familiada para a festa de Natal, porque lá havia um zoológico inteiro de bichos pra lá e pra cá, e o Chicó como um típico gato da capital não convive com outros animais desde os seus três meses de idade, então ficou com medo e quis logicamente se esconder.
Nosso filhote ficou na casa da minha mãe, uma residência com três gatos, uma cachorrinha e um papagaio. Nos dois primeiros dias Chicó ficava todo eriçado com os seus priminhos, mas a partir do terceiro dia já estava pulando e aprontando com toda a bicharada e sentindo-se quase em casa. O único fator que fez ele odiar essa aventura, foi a minha ausência, já que eu permaneci na casa da minha irmã, o que fez ele pensar que nós o havíamos abandonado. Com esse pensamento ele tentou se aventurar por um dia inteiro fora de casa, e nos deixou com o coração na mão, mas.... Chicó é um gato danado, ele gosta de se aventurar, e neste dia e noite em que ele passou fora, estava na verdade desbravando o território e tentando conquistar seu pedaço de terra, já que acreditava ser seu novo lar.
No fim ele estava se aventurando com outro gato que mora no bueiro na frente da casa dos meus pais, ele fez amizade logo com esse gato de bueiro e sentiu-se muito bem aprendendo novas peripécias com este gatinho de rua.
Meu herói/marido encontrou ele depois de quase 24 horas da fuga/desbravamento do Chicó, o que me fez pemanecer esta noite na casa da minha mãe para que ele percebesse que nós não o estávamos deixando ali e que era apenas uma permanência temporária.
Resumindo, nós ficamos dez dias, e depois do terceiro dia e de sua fuga baladeira, ele ficou super tranquilo e dominando tudo ao seu redor, se adaptou aos outros animais, mas afastou o rei do pedaço e tomou lugar no centro da mesa, literalmente. Um dia chegamos e lá estava o Chicó deitado na mesa da cozinha, com seus súditos Rohni e Tristin deitados embaixo nas cadeiras um de cada lado como uma trindade de gatos, prontos para dominar o território.
Sim essa aventura durou pouco, mas a adaptação do Chicó foi ótima, é claro que ele não gostava muito de ter que dividir tudo com outros gatos, mas no fim das contas foi um grande aprendizado para um gato mimado que tem tudo e não precisa enfrentar fila pra hora do rango.
Na volta nosso filhote ficou enjoado e eu tive que deitá-lo de barriga pra cima e acariciar sua barriga durante todo o percurso. Ele não fez coco, nem xixi dentro do carro enquanto viajávamos, como eu disse ele é um Lord. Quando chegamos em casa ele ficou feliz da vida, e muito grato por não termos abandonado-o naquela casa cheia de outros gatos, afinal, como todo gato ele ama ser o único rei do pedaço. De toda essa aventura, a única coisa que ele realmente não gostou foi ter ficado sozinho numa nova casa, ele pensou mesmo que iríamos deixá-lo morando lá, e isso era visível em seu olhar blasé quando eu tentava acariciá-lo. Durante esse período de dez dias, todas as vezes que eu queria fazer carinho nele, tinha de me retirar para um lugar afastado, assim ele recebia com prazer os cafunés e voltava a se sentir amado, agora quando tinha outros animais por perto ele ignorava minha atenção e corria brincar com os outros gatos. Resumindo os gatos são nossos donos e são extremamente possessivos, se tentarmos dividi-los com outros seres eles irão se vingar e sentirão seu orgulho ferido, mas isso só no começo quando eles ainda sentem-se ameaçados pelos perigos que ainda não conhecem, e como ato de defesa ignoram todos à sua volta.
Essa foi a primeira vez que ele andou de carro, e também a primeira vez que conviveu com outros felinos, mas é preciso dizer que sobre tudo o que se diz de gatos, o Chicó supera as expectativas, a conexão que ele fez conosco é realmente grande e genuína, ele não é castrado e provavelmente nunca será, HOJE NÃO TEMO MAIS SUAS FUGAS, aprendi a respeitar sua natureza e amá-lo incondicionalmente. As pessoas não entendem nada de amar, elas aprisionam todos os que amam, seja em gaiolas, coleiras, quartos, casas, casamentos, enfim, se um dia nosso filhote desejar o mundo e sim ele já fugiu algumas vezes, nós entenderemos, os seres vivos são assim, eles querem desbravar o mundo, e se isso for a vontade de nosso Lord então que seja assim.
Viajar com Gatos parte II
Listo! Agora é preciso dizer que o Chicó já tem cinco meses e está muito mais consciente de sua existência e de suas relações com os humanos.
Neste feriado de carnaval nós três, Chicó, Arnoldo e eu fomos viajar pra Santa Catarina no festival mais amado do sul do mundo o Psicodália.
Nós viajamos pela manhã então tivemos que lidar com o coco do Chicó dentro do carro já que viajamos no horário de suas necessidades básicas. Nada de grave ele fez seu cocozinho, mamãe limpou e ele ficou quietinho. Quando chegamos na Fazenda ele já começou a querer experimentar tudo ao seu redor, mesmo com um pouco de medo pelo número grande de pessoas, mas nada que o impedisse de espionar todos com muita curiosidade por baixo das coisas às quais ele se enfiava como nosso carro. Quando chegamos no festival todas as pessoas queriam acariciá-lo e me questionavam se ele não fugiria e blablablá... Eu simplesmente respondia que não sabia, pode ser que ele fugisse eu nunca tinha tentado isso e ninguém jamais tentou para nos contar, então aqui estou eu para mais uma vez experimentar algo inusitado e contra as indicações.
O festival é uma espécie de encontro anual de pessoas maravilhosas com muito amor no coração e muita paz, este ano foi um pouco diferente, fomos atingidos por uma frente fria de pessoas que nada tinham que ver com o festival, uma galera de cara congelada, com roupas da moda acreditando fazer parte do nosso festival, mentira. Eles congelaram nossos corações e destruíram nosso recanto espiritual com suas modernidades, paus de selfie, chapinha no cabelo, banho de vinte minutos, e um péssimo senso de grupo.
Situando vocês neste contexto, agora é possível imaginar onde fui meter o Chicó, no meio do mato com seis mil pessoas acampadas em barracas andando pra lá e pra cá, afundados na lama e com muita chuva pra desanimar o gato.
Pois bem, no primeiro dia ele ficou quietinho na barraca tentando entender o que eram aquelas sombras que passavam todo o tempo por nós e ainda tropeçava na barraca, no segundo dia queríamos passear com ele, mas não deu por causa da chuva incessante e sua avessidade à água. No terceiro dia Chicó já estava habituado ao som alto e ao grande número de sombras que passavam durante a noite e que cessavam durante o dia. Logo ele estabeleceu uma rotina, permanecia acordado durante toda a noite, e dormia durante todo o dia quando todos ficavam menos eufóricos e ele enfim podia descansar. Neste terceiro dia depois de jantar e tudo o mais, saímos da barraca nove horas da noite para os shows que se iniciariam, e como os outros dias deixamos ele dentro da barraca amarrado com um barbante trançado de uns cinco metros de comprimento, nossa barraca é grande e com varanda então ele podia se locomover fazer suas necessidades na grama e ainda brincar com os insetos. Porém, as sombras da noite ainda o confundiam, e neste exato terceiro dia Chicó decidiu que se esconderia embaixo de um carro que estava estacionado a uma barraca de distância de nós, e que lá ele sentiria-se muito bem obrigado.
Quando eu e meu marido chegamos naquela madrugada na barraca encontramos o barbante com a coleira azul de sininho na ponta, Chicó tinha fugido por baixo da barraca e ido debaixo do carro. Eu sabia disso porque ele já tinha ensaiado o passo naquela mesma tarde, fazendo com que eu pulasse a cerca que separava as barracas dos carros e o buscasse debaixo daquele mesmo carro. Então quando vimos que ele havia fugido, eu e meu marido tivemos reações adversas, ele disse: - Bem ele vai achar alguém que cuide bem dele já que a mãe dele não cuidou direito, ou talvez tenham pego ele pra fazer algo, e me fez um cafuné na da cabeça do tipo, eu bem que imaginei que isso aconteceria, afinal, ele é um gato. Eu pensei, - como alguém havia colocado a coleira encima da barraca, devem ter encontrado a coleira no chão e percebendo de onde o fio vinha depositaram sobre nossa casa móvel. Ok. Lembrando do episódio daquela tarde, eu conclui então que o Chicó havia fugido da coleira se escondido debaixo do carro e logo pela manhã voltaria pra barraca, caso ele não voltasse na manhã seguinte eu iria até a rádio Kombi e faria anuncio do sumiço do Chicó. Sem nenhum peso ou preocupação pensei no Chicó e disse: -Mamãe te ama confia em você e está te esperando aqui, você sabe onde estamos e fim. Dormi a noite toda, até o momento em que fui despertada pelas unhas do Chicó, que arranhavam a porta da barraca, então fui lá abri a porta e disse: - E aí a noite foi boa? Ele comeu, bebeu e foi dormir no meu travesseiro, cabeça com cabeça, bem abraçadinhos. E durante os dois dias que se seguiram ele dormiu brincou, fez suas necessidades na grama o que o deixou muito satisfeito, brincou com grilos, tentou explorar o mato, mas a grama molhada e a garoa não o deixavam à vontade com a situação. No fim Chicó ficou tranquilo, eu fiquei tranquila, e na hora de desarmar a barraca ele achou a maior festa e ficou pulando encima das coisas, pegando fogo e se divertindo à beça.
Resumo da aventura, Chicó foi o primeiro gato da história desde que eu saiba a frequentar festivais como o Psicodália, ficar tranquilo, feliz e sair pra dar um rolê e voltar na manhã seguinte sete horas da manhã, como o filho pródigo que sempre a casa retorna. Nosso gato não fica nervoso, não rasga a barraca e não faz cara feia em situações que para outros gatos seria extremamente estressante.
Conselho, se você não tem uma conexão de confiança e amor espiritual com seu gato não o leve para lugar algum, castre-o, aprisione-o, e transforme-o em uma bola gorda de pelos, porque viver com um gato não castrado e ainda levá-lo com você para todos os cantos, vai deixar seu gato sujeito a experimentar sentimentos novos, experiências que podem assustá-lo ou não, ele vai tirar seu sono, arranhar os bancos do seu carro e ainda morder seus pés enquanto você tenta dormir depois de um dia de muitos shows, pés cansados, e você ao contrário de todos não irá descansar como deveria porque tem que brincar com o gatinho.
Enfim eu amo o Chicó, e o levarei para todos os próximos acampamentos, talvez um dia ele não volte eu não sei, talvez ele seja raptado, atropelado, fuja com uma gata, eu não sei das várias coisas que podem acontecer com nosso filhote, mas eu sei que eles não são indefesos, eles são seres espiritualizados e conscientes, e estão à mercê de todos os perigos do mundo assim como nós.
Mas é preciso dizer mais uma vez, a conexão que eu criei com o Chicó é algo que supera as expectativas de todos que conhecem nós dois, portanto se você não for capaz de viver eternamente sem saber quando e como seu gato voltará, não faça nada do que eu fiz nos relatos acima.