Bonjour mes amis, o poema de hoje não é novo mas é inédito.
Afaste-se das coisas que te nutrem, da beleza que teus olhos estão acostumados a observar, e tuas palavras murcharão em tua boca antes mesmo que tua mente seja capaz de criá-las.
Muitas coisas mudam, muitas coisas permanecem, e o conflito entre essas duas questões são o meu cálice de vinho e a taça de veneno. Difícil se embriagar de uma sem provar um gole da outra, mesmo que distraidamente. Eis a metáfora que não se cumpre, eis o pensamento que se confunde, eu desempenhando papeis que não me servem, eu experimentando ares que me necrosam a alma, que me cortam os pulsos de uma só vez. Reaprender a viver em uma sociedade que nada pode te oferecer, e que não fará esforço algum para te compreender, porque já não pode mais, porque teus passos já alcançaram andares que os demais nem sonham existir.
Ah, o poema de hoje já não faz mais sentido de ser, o poema de ontem era tão monumental porque monumentos me orbitavam, e agora no meio de tanto cascalho ando catando destroços de um mundo triste e feio, sem estética, sem poesia. É como ser cegado aos poucos, é ter que se fingir de morto, é poupar os ouvidos alheios de seus tesouros. Imagine construir monumentos e não ter para quem exibi-los. Porque os olhos que te miram são incapazes de perceber a beleza que te foi criada, eles nunca compreenderão a diferença entre uma espiga de milho e uma espada, além das evidências físicas que os separam. Eu sem alteridades, eu não me confundindo com nada, eu me distinguindo com clara nitidez de todo o meu entorno, eu perseguindo carreiras de formigas para preencher o dia que não tem sintonia nem louvores. Eu provando da terra que me criou e não reconhecendo o cheiro da terra que me pariu. Eu sendo um fruto estranho. Eu comendo veneno. Eu embriagando-me de amor. Eu detestando estar. Eu sabendo onde me encontrar. Eu sem pressa de voltar. Eu arrancando peles que me cobrem quando fechos os olhos para o mundo que já não é. Eu almejando seres, eu sendo um pouco mais. Eu me divorciando do último laço que me fez alguém que já não reconheço nem mesmo entre os parentais.
Hoje não há poesia porque ela está nos filmes que não assisto mais, nas ruas que já não piso mais, na água que não provo mais, na chuva que não me beija mais.
Hoje só há prosa enrustida porque essa terra não conhece rimas, porque não encontro o verde no verde dessas lavouras estéreis e infernais.
Juliana S. Müller.