DOMINGO DIA 23 DE JULHO DE 2017
o vento varre a poeira
O vento varre a poeira para dentro da minha sala.
As portas da varanda escancaram toda a rebeldia da vida lá fora.
O vento arrasta para dentro da minha casa toda a poeira roxa do oeste.
E me pega desprevenida sentada no sofá,
enraizada pela insônia das noites lactentes.
minha pele não transpira mais, sufoca.
A camada de pelo é agora uma casca vermelha enrijecida e rachada qual solo agrestil.
Petrificada ainda no sofá, sem conseguir descolar da nova camada de pele terrosa,
praguejo, enquanto ouço a tosse convulsa da minha cria no quarto ao lado.
Todos dormem,
porém eu, envelheço sob o céu seco e mortífero tenso.
Meu pensamento é saudoso.
Quem dera respirar sem engolir o ar ardiloso que entra pelas minhas narinas e arrasa todo o meu corpo. Enrijece meus alvéolos e resseca a minha língua.
Todos dormem.
E Eu espero a tosse da cria cessar, enquanto controlo a minha, com medo de que ele possa despertar.
E estremeço de horror com cada soco que seu frágil corpo recebe enquanto excreta toda a poluição do mundo grudada em seus imaculados pulmões.
Essa noite os anjos terão de dormir sozinhos,
pois a secura dos ares atingiu a nobreza da vila.
E despertou da noite intranquila a vida mais nova e franzina.
Embalo em meus braços cansados e trêmulos, o corpo pequeno.
Ele não reclama, não esbraveja, apenas libera o catarro poeirento de seus pulmões e nem mesmo pragueja contra o céu do sertão.
Eu, fêmea que sou, ataco todos os santos que permitem esse mal tempo.
Fosse eu maior que meu amor, sequestraria a Rainha dos Raios e faria ela chover até nossos vasos se encherem novamente e escorrerem pelas paredes toda a poeira acumulada.
Enquanto as ruas não virassem rios, de mim, ela não se livrava.
Mas fêmea minúscula que sou, apenas provoco.
Invoco sozinha o canto que aprendi quando criança, com a velha índia.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
Mas não chove,
nada escorre do céu.
A única nuvem que havia, desfez-se.
Agora o sol volta e queima mais um dia que impulsiona a tosse que não mais se controla,
Meus olhos ardem,
meu filho chora.
petrifico no sofá,
e sonho com a umidade e o mofo que já quis amaldiçoar.
UMIDADE ABAIXO DE 30%, uma forma perversa de me castigar.
Juliana S. Müller.
o vento varre a poeira
O vento varre a poeira para dentro da minha sala.
As portas da varanda escancaram toda a rebeldia da vida lá fora.
O vento arrasta para dentro da minha casa toda a poeira roxa do oeste.
E me pega desprevenida sentada no sofá,
enraizada pela insônia das noites lactentes.
minha pele não transpira mais, sufoca.
A camada de pelo é agora uma casca vermelha enrijecida e rachada qual solo agrestil.
Petrificada ainda no sofá, sem conseguir descolar da nova camada de pele terrosa,
praguejo, enquanto ouço a tosse convulsa da minha cria no quarto ao lado.
Todos dormem,
porém eu, envelheço sob o céu seco e mortífero tenso.
Meu pensamento é saudoso.
Quem dera respirar sem engolir o ar ardiloso que entra pelas minhas narinas e arrasa todo o meu corpo. Enrijece meus alvéolos e resseca a minha língua.
Todos dormem.
E Eu espero a tosse da cria cessar, enquanto controlo a minha, com medo de que ele possa despertar.
E estremeço de horror com cada soco que seu frágil corpo recebe enquanto excreta toda a poluição do mundo grudada em seus imaculados pulmões.
Essa noite os anjos terão de dormir sozinhos,
pois a secura dos ares atingiu a nobreza da vila.
E despertou da noite intranquila a vida mais nova e franzina.
Embalo em meus braços cansados e trêmulos, o corpo pequeno.
Ele não reclama, não esbraveja, apenas libera o catarro poeirento de seus pulmões e nem mesmo pragueja contra o céu do sertão.
Eu, fêmea que sou, ataco todos os santos que permitem esse mal tempo.
Fosse eu maior que meu amor, sequestraria a Rainha dos Raios e faria ela chover até nossos vasos se encherem novamente e escorrerem pelas paredes toda a poeira acumulada.
Enquanto as ruas não virassem rios, de mim, ela não se livrava.
Mas fêmea minúscula que sou, apenas provoco.
Invoco sozinha o canto que aprendi quando criança, com a velha índia.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
Mas não chove,
nada escorre do céu.
A única nuvem que havia, desfez-se.
Agora o sol volta e queima mais um dia que impulsiona a tosse que não mais se controla,
Meus olhos ardem,
meu filho chora.
petrifico no sofá,
e sonho com a umidade e o mofo que já quis amaldiçoar.
UMIDADE ABAIXO DE 30%, uma forma perversa de me castigar.
Juliana S. Müller.