quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Dos arrebatamentos que encontro na minha jornada, conhecer a histórias dos grandes avatares é uma mesma sentença dada de diferentes formas. A cada grande gênio, encontro um pouquinho do meu fracasso, da minha trajetória terrestre, e sinto as mesmas feridas, e vejo a mesma sociedade não compreendendo as diferentes formas de viver e sentir o mundo. Vejo os mesmos bloqueios sociais, e as estruturas que as instituições construíram e engendraram de tal forma que continuam a barrar e desacreditar os grandes espíritos que aqui tentam a sua jornada.
Não me compararia em brilhantismo a qualquer um destes deuses, mas conhecer os seus fracassos me faz tão gloriosa e crente de minhas capacidades quanto qualquer grande obra. O não domínio de mim mesma talvez seja a grande paleta de cores da minha alma.

Tenham uma linda semana.
Bonjour.

28 de fevereiro de 2018. quarta-feira

Ela sente tudo!
Ela sente tudo agudamente!

Essas palavras saírão um dia de ti.
Enquanto suas bocas emudecem
Eu assisto as minhas histórias nas telas de Vincent.
Ainda não domino suas cores, 
mas já as deleito em meu vocabulário.
Então um gênio em carne sentiu o mesmo que eu.
Então um gênio em carne comeu do mesmo prato que um ser desbotado "comme moi"?
Sim.
Enquanto me aflijo em inúmeras loucuras.
Enquanto me encerro em inúmeras dúvidas.
Vou me tornando cada vez mais Van Gogh.
Quando menos me encaixo no mundo carnal
Quanto mais amo todas as vidas deste mundo
mais vejo em mim seu retrato de moribundo.
Vincent, em que momento da minha jornada me tornei você?
Por que demorei tanto para em ti me conhecer?
As pessoas sempre chegam na minha história
quando o meu personagem parece sem trajetória.
Então as suas glórias me fazem crer novamente na minha própria prova.
Nas cartas que envio com o calor das horas.
Nos arrependimentos que não tenho pelos amores secundários, efêmeros,
que me fazem mais poeta do que em horas sórdidas.
Quando menos quero ser alguém.
Quando me declaro oficialmente ninguém de lugar nenhum.
Quando treino essa resposta aos mestres e me acho tola.
Encontro um Vincent que foi ninguém, e morreu como louco.
Amado por poucos.
Uma obra duvidosa.
Uma vida de ostracismo, fracassada.
Um homem que qualquer luz adivinharia sua morada.
Um gênio que calava dentro de si a sua glória.
O que devo pensar eu de mim?
Todos os quadros pelos quais passei, distoei.
E essa tela em branco em que me anulo todos os dias,
será a inscrição de uma glória vinda?
Todos os rostos cheios de louvores me passam a mente.
E vejo meu retrato completamente distoante,
um currículo vazio e uma alma desconcertante.
Devo eu temer por me tornar um Vincent,
envergonhando os que amo e vivendo de cravos.
Não construo eu um paradoxo pra esse caso.
Não me encorajarei jamais a ser como o todo.
Viverei só e louca, mas jamais BEBEREI da ganância dos povos.
Enterrei minha última partícula do ego,
quando aceitei vexada aquele trabalho escravo.

Agora sou livre.
Agora sou Vincent.
Não tem jeito,
nasci de novo
um outro tempo
mas o mesmo ovo.
Vou morrer com o mesmo sonho.
Vou tornar-me gênio póstumo,
de um outro povo.

Juliana S. Müller

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Só penso em você quando estou no período fértil.

16 de fevereiro de 2018

Será você? O lacre no meu coração.
Teus olhos ainda voltam a me espiar,
eu sei.
Hoje você veio me ver.
Sua fisionomia era como na última vida.
Eu sei, os tempos eram outros,
mas a ousadia do amor, a mesma.
Você veio ao meu encontro, com tanta coragem
Que eu não vejo possibilidades de dizer não.
Toda a sua corpulência séria, se desfez nos meus braços.
Quando você me pegou pela cintura, 
os nós dos meus laços se desfizeram em volta do teu pescoço. 
E eu soube que era o mesmo abraço daquela nossa última fuga.
Mas da última vez, eu não estava pronta.
Escorri entre nossos corpos e fiquei de lado, pesando a culpa.
Hoje, nenhum pensamento me perturba.
Quando suas asas enroscam nas minhas, eu me deleito em seu voo
E viajo para os extremos intocados de nossos amores interrompidos.
Você arranca os lacres do meu peito,
e liberta toda a existência dolorosa de uma dúvida.
Inspiro com meus lábios colados nos seus.
Nosso primeiro beijo,
nossa última vida.
Nos amaremos do outro lado do espelho,
Pois deste lado, já queimamos as nossas fichas.

Juliana S. Müller.