sábado, 8 de julho de 2023

Deus Viking - o amor é reticências

 

Já diria Florbela Espanca- tu és como deus, princípio e fim.

01/10/2022

Você não precisa saber que,

Eu te espio de hora em hora

Nas gavetas da minha memória

Revisando cada olhar que

Você me lança quando no escuro da sala

Só existe eu e você.


Você não precisa saber que

Eu gozo sozinha em meu quarto

Toda noite que eu não posso tocar

O seu corpo que é meu altar

Ao qual eu me ajoelho

Só para poder arrancar

Desses profundos olhos abismais

Um gemido que alimente meus versos.

E cada vez que os encaro 

É como se estivesse olhando

Diretamente para um buraco negro

Onde tudo é princípio e fim

Como o deus que você não admite

Mas que eu reconheço e confesso

Os meus segredos.


Você não sabe

Mas eu já decorei cada

Pedaço da sua pele tatuada 

Onde desenhei o mapa dos teus beijos

Para saber o ponto exato em que 

Começa e termina o teu desejo.

E nisso não creio anseios

Apenas desfruto de cada

Gozo que o seu toque gentil 

Causa em meu corpo

Que estremece por não resistir

À esse todo que é você.


Você não sabe,

Você não precisa saber.

Dos segredos velados

Que eu tranquei 

Antes de saber de você.


Tudo é pouco e raso

 à divindade

Que eu sinto

quando eu encontro o teu ser.


Eu te (re)conheço, meu bem,

E esse sangue viking que corre em você 

Ressoa como martelo quando eu lembro

do teu beijo ao me receber.


Juliana S. Müller

Ponto final

Eu sei,

eu te dou medo

te tiro do centro

e te arremesso contra o espelho.

Eu sei 

que você precisa de oráculo para me decifrar 

De um intervalo para assimilar

Os versos que eu escrevo em você com meus beijos.


Mas eu decidi te dar tempo para encontrar

as ferramentas que te ensinarão a ler o meu texto

e a entender a intensidade do meu sexo.


Eu não uso tradutor

por isso escancaro meu verbo

e não há nada nele de metafórico, 

que possa confundir o meu desejo.

Eu sou o verbo literal,

se eu te conjuro amor

é porque já passou meu carnaval

e agora quero sossego em teu peito.


Juliana S. Müller

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Errei o ponto

21/04/04 sexta-feira 

Eu nem sei porque eu insisto em você 

Se você nem existe em mim.

Eu persisto em existir pra você 

mas desisto de um amor que nem começou 

E já veio o fim.


Eu vi em você o potencial de um amor,

Mas o que eu senti de você 

Foi a troca sexual.

E hoje continua ressoando,

Mesmo depois de uma semana exaustiva.

Mesmo com mercúrio retrógrado.

Tudo o que eu sinto é a sua onda 

Chegando e me enchendo de algo

Que eu ainda não sei o que é.


Você me encheu de interrogação 

Me deixou de cara no chão e

logo eu que conduzo todo verbo

Acabei caindo em tentação.

Será que ainda terei redenção?

Ou não?


Por Juliana S. Müller

terça-feira, 11 de abril de 2023

o AMOR é burguÊs

 Desde meu último amor

todas as minhas amigas 

tentaram adivinhar qual seria o meu próximo muso inspirador.

Algumas apostaram que meu amor seria irlandês

outras marombês. 

Teve quem apostou no camponês, argentinês,

Mas anos após o Japonês 

ninguém chutou que meu amor seria BurguÊs

Justo eu que só me deito com homens sem classe

Eu que de nobre não tenho sangue nem nome, 

Acabei completamente de quatro por um romântico burguês.


Eu não deveria estar queimando tempo escrevendo versos

para você,

mas acontece que meu coração que não paga a conta

não sabe o preço que custa para te ter.


Eu devia estar editando vídeos, 

mas estou  aqui cantando sobre você

nesses pobres versos proletariados

que nem um pobre moribundo

como tantos que eu me deitei

seriam capazes de corresponder

imagina um Lord como vos mercê.


Do capítulo O amor é Burguês


Juliana S. Müller

domingo, 9 de abril de 2023

O INESPERADO (Chanel)

Quando o mundo está de ponta cabeça, onde está o norte?


Eu ainda não tenho certeza se você vai virar poesia

Tudo naquela noite me pareceu surreal 

Todas as palavras trocadas 

Todos os risos, os gestos, as sinceridades

Tudo ficou nebuloso

e a única certeza que eu tenho foi o do teu cheiro e do teu gozo

Lembro do momento em que senti teu cheiro

Você gritou o nome do perfume,

CHANEL

Eu ri e disse que era uma delícia,

mas eu já não sabia se falava do perfume ou da companhia.


Eu não faço ideia do que me encorajou a te cantar

Mas ao te olhar me pareceu óbvio que a nossa noite acabaria 

com nossos corpos entrelaçados em alguma cama.

E quando a nossa noite decididamente resultou na sua cama

E eu pude ver de perto a cor da sua alma

eu quase congelei...

Nada, absolutamente nada me impressiona nesse mundo

apenas a doçura das almas e a mente intelectual

E quando senti a sua doçura eu derreti

mas quando descobri a sua mente

eu entendi, que não estava em um date casual.

E isso me virou do avesso, e eu acabei de quatro na frente do espelho.


Você não deveria ter me falado sobre Rupi Kaur

nem ter me embalado ao som de Sinatra ao nos despedir

Você deveria ter colocado um ponto final ruim como

qualquer homem deste estéril oeste.

Mas você tem um espírito cosmopolita

e entrou onde ninguém consegue ultrapassar em mim.

E agora meu querido onde era pra ser ponto final

você deixou a reticência,

não sei se foi erro gramatical ou licença poética

Mas agora você cravou em mim o desejo do verbo

e eu só me calo quando a sua boca gostosa me pedir.


... Continua

Juliana S. Müller


quinta-feira, 30 de março de 2023

 Buenas leitores inexistentes de uma escritora mais omissa ainda.


30.03.2023


Eu fui engolindo.

1 2 3 amores

Alguns tive que digerir na mesma estação

nem pude esperar findar primavera e verão.

Mas esses amores em verdade não foram

digeridos, foram apenas sendo engolidos

Não era viável que eles existissem em mim.

Então fui arrancando um a um e jogando

na boca do estômago na esperança que acabassem no reto.

Mas eles subiram pela boca e entalaram no meu pescoço.

Dali não sobe pra cabeça, nem descem pro peito.


E de tanto engolir amores

acabei entalando de um jeito

que mal começo a amar alguém

e logo acabo vomitando o sujeito.

Justo eu que,

exorcizei demônios,

mandei embora encostos

Não consigo fazer sumir

esses amores que engoli.


E agora José qual o conselho?

Me arranco pra um retiro

ou arranco pescoço inteiro?


Juliana S. Müller