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Myanmar afogou Mohammed
domingo, dia 22 de outubro de 2017
eu não posso mestre.
eu não consigo abrir os olhos e não indignar-me,
ao ver aquela criança tão minha, morta com o rosto atolado na lama.
eu não me interesso pelo kharma dela,
eu apenas sinto a sua dor.
é pequeno demais pra ser um corpo em lama.
e ingênuo demais para sofrer como um pecador.
eu não sei mestre, das vidas dele passada.
eu só sei do ser frágil caído naquele rio de lama
que não o salvou de nenhum sofrimento atroz.
eu não posso ver outro rosto se não o da minha prole
gemendo, angustiando, enquanto eu nada posso fazer.
eu afundei junto naquela lama.
e engoli a mesma água sufocante.
eu gritei pela minha mãe assim como aquela criança.
pequena demais para ser vitrine da atrocidade humana.
das diferenças mundanas, que só têm relevância neste vale de lágrimas mordaz.
eu não controlei meus músculos faciais mestre,
eu chorei,
eu confesso mestre,
chorei.
é meu semelhante que afogou ali,
é meu semelhante que foge todo dia da perseguição assistida.
me desculpe mestre,
eu me envolvi nesta energia,
eu não evolui neste longo dia,
eu apenas sofri.
eu pequei mestre,
eu não lavarei a minha alma,
eu levarei a dor do mundo por onde eu seguir.
uma imagem mestre...
uma imagem e eu sucumbi.
Juliana S. Müller.
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