quarta-feira, 14 de agosto de 2019

TPM

Um poema para todo mundo que já viu uma mulher enlouquecendo na TPM, seja de prantos, de melancolia, de raiva, de qualquer sentimento extremo que normalmente não seria motivo para tanto, não seria nada mais que brisa ao ouvido.
Tenhamos empatia pelas fêmeas. Fêmeas, busquem dentro de si equilíbrio, acalmar a alma nesses dias evitam muitos ruídos na mente.

Paz.kkkk



Não pira.


Mas toda semana que a tensão vem

eu me encolho,
perco o controle das emoções
fico crua, nua, escancarada
é duro demais.
é oscilante demais
dá vontade de chorar
de rolar no asfalto
de queimar a carne
de esfaquear o coração
de apertar o outro que falta
encurtar as distâncias
é como ser bicho
puro instinto

É um abandono total do ser digno

é um desequilíbrio que harmoniza
o meu ser com a minha carne
é um sentir demais
processar demais
todas as coisas que passaram incólumes nos dias normais.

Eu existo com todas as minhas forças

com todo o meu coração em expansão
Passo os dias e as noites roendo os dedos,
desejando você vindo até mim
me tirando dessa carência
Me apertando nessa cama
fazendo ninho comigo
desenhando no meu umbigo com o seu dedo
Eu deliro
eu imagino e
multiplico tudo o que já vivi
Nada é natural nesses dias
Tudo é exaltado demais
Todas as vozes são estridentes
as músicas canções que me arrancam lágrimas.
É estranhar a dor que sai das entranhas
Mas é tudo ficção
Tudo drama da menstruação.

é só mais uma típica semana que passa sem remédio

Que deixa como marca ,
o vermelho no chão do banheiro.

Ser fêmea é isso,

nada é o mesmo.
Nem o corpo
nem os desejos.


Juliana S. Müller


terça-feira, 13 de agosto de 2019

O amor é japonês

Terça-feira, dia 13/08/2019

Todas as manhãs desperto no Japão.
Sento-me rente a janela, e observo.
Estou só.
Nesta casinha que é nosso lar.

Você já saiu,
me deu um longo beijo e se despediu.
foi trabalhar.

Eu passeio meus olhos pela paisagem lá fora,
é primavera.
Todas as cores sorriem para mim,
Não vejo mais aquele verde do soja.
Mas saboreio o seu gosto em todas as refeições.

E não posso deixar de pensar
que talvez aquele soja plantado em meu quintal
seja esse que tempera o nosso jantar.

Já diferencio as nacionalidades.
Os coreanos, os chineses e os japoneses
Já encontro em seus idiomas singularidades.
Já decifro seus rostos, seus corpos, suas habilidades.

E me destaco no meio de todos,
com as minha brasilidades.

Nunca me imaginei em terra tão estranha a mim.
Tão destoante de tudo o que já fui,
de tudo o que já projetei.

E hoje ao olhar pela janela
não estranhei mais as ruas,
nem as árvores,
não senti mais os abismos
Sinto que as pontes foram criadas
e agora já posso atravessá-la sem temores.

Todo esse equilíbrio tão ocidentalmente teorizado
no Japão é concretizado.
Tudo é harmônico e respeitado.

Sou aqui uma outra,
a escritora.
A buda.
A não carnavalizada.
Sou mais espírito e menos carne.

Encontrei no oriente,
o que jamais poderia no ocidente
O silêncio que não me entendia,
O silêncio que me acalma.

Juliana S. Müller