29 de janeiro de 2018.
Não há passado,
há uma história constante
e tudo vive em mim.
Nada fica para traz,
tudo vem comigo
na experiência e na memória que é eterna e essencial.
Hoje despi-me de mim mesma,
e olhei aqueles álbuns antigos
com a curiosidade de outrem,
e descobri um ser celestial.
Como não invejar aquela menina
Toda a felicidade de uma vida mora ali.
Aqueles olhos não conhecem lágrimas
Aquela boca nunca despejou palavras odiosas.
Notadamente sua vida é grandiosa.
Quem merece tanto amor?
Quem é que pode ser tão feliz aqui?
Ela não parecia desta pátria,
Suas cores áuricas não são daqui.
Aquela jovem sorridente
com a língua de fora,
com a vida que um dia eu almejei pra mim.
Quem é essa jovem tão intocável,
completamente alheia a tudo o que é vil?
Ela, personagem de minhas histórias,
tão sábia de suas escolhas,
tão teimosa em seu caminho,
quem a concebeu assim?
Se me recordo bem,
essa jovem destemida
com ar de menina de fora
que esbanja estranheza e amor,
é essa velha que hoje vos fala.
Uma senhora completamente perdida
entre suas idas e suas vindas
esquecida de suas amigas
e repelida de qualquer honor.
Essa menina mora em minha casa,
me visita quando a força me falta
e me pede calma em dias de estopim.
Ela não entende que aqui dentro há uma falha,
um desastre geológico que a esta altura irrompeu em mim.
Seus olhos me espiam e sua voz me acalma,
Mas basta para que ela se vá
pra que eu me perca completamente e
volte a sentir o mesmo aperto chakra
Onde antigamente repousavam os querubins.
Não importa se ela vai e volta,
Eu fui ela um dia
e me orgulho de sua história.
Uma moça tão digna e de preceitos,
não pode terminar sem um final feliz.
Eu te disse que essa trajetória
não te traria glórias,
e que um belo dia
tudo estaria por vir.
A cada sete anos, giram a roda samsãra
E arrancam as máscaras que você
Não mais usará, quando enfim se despir.
Não me decepcione menina,
o mundo te aguarda
e enquanto você se prepara
eu cuido da tua casa
até que você saia novamente do livro
e mostre ao mundo o sorriso que ele merece saber.
Fecho o álbum de fotos,
com a sensação de um passado remoto
Que me sacode qual terremoto
E faz meu presente se ressentir.
O intelecto amadurece,
o espírito rejuvenesce.
Não fosse a vida assim,
Não saberia eu amar o fim.
Juliana S. Müller.