domingo, 14 de abril de 2019

Poema pro gato Peri, ser que veio somar, ensinar, amar, distrair.
De algum dia do inverno passado.





Era matéria.
Densa.
Pesada.
Macia.
Volumosa.

Era alheio.
a todos.
aos outros gatos.
Ao perigo.
Ao amigo.

Era carinhoso.
Amava um dia não, o outro sim.
Mordia os tornozelos.
Seguia seus donos até o portão feito cachorro.
Amigo dos humanos,
inimigo de sua espécie.

Era friolento.
No inverno se enfiava nas cobertas,
e dormia com a cabeça no travesseiro.
Feito gente.
Passava os dias no pé do fogão à lenha.
Passava as noites nos pescoços.

Era chato.
Acordava de madrugada e miava.
Acordava cedinho e miava.
Queria fazer xixi, miava.
Queria abrir a porta miava.
Queria ser gente, miava.

Era gato.
Morreu não se sabe como.
amanheceu no asfalto.
como num prenúncio meu
como num sonho acordado.

No início o peso de seu corpo foi sentido no coração.
Pesava. doía.
Depois foi virando éter.
Uns dias mais e só sentia um leve movimento,
seu pulo pesado na cama.
Suas patas afofando as cobertas nas minhas pernas.
Tudo isso foi se desfazendo.
E ficou apenas as suas aparições fantasmagóricas.
Entretendo o filho,
Arrancando-lhe gargalhadas.

O filho que entende mais de ser gato do que humano.
Que é todo Peri.
Que ignora os signos humanos.
Que anda como gato.
Que brinca como gato.
Que ama como gato.

E eu aprendi a amar os espíritos trocados.
A olhar as razões com outros olhos.
A sentir o amor de humano e de gato.
De gato que quer ser homem
de homem que quer ser gato.

As experiências são divididas, existência é uma só.

Juliana S. Müller.



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