quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Só escrevo para você quando estou bêbada.

se eu voltar será para te olhar nos olhos.
mesmo que eles sejam repugnantes.
Mesmo que o tempo entre você e eu tenha queimado os amores,
os versos persistem, foram feitos para a eternidade.
em todos os cantos dos multiversos o nosso sopro de poesia vai estar.
Para aonde eu for, levarei nossos poemas comigo.

Mas eu não volto, você sabe.
Por isso não me responde mais.
Um dia desses apareço na tua página
e então você terá que me encarar, cara.

Vai olhar para dentro do meu corpo
e extrair do meu sangue o vinho que te embriaga
e te instiga e te faz querer escrever sem parar.
De mim você não vai se livrar,
Não sei quantas musas receberam suas juras de amor.
Mas poeta tenho certeza. Uma.

Você vai voltar,
e quando voltar terá um livro pra descobrir.
Em seu nome.
Você será conhecido pela pela mão da Musa que te pariu.
Você será ridicularizado pela poeta que o feriu.

Você se esconde em todos as sombras do existir,
mas nos versos te acho, e me encaixo ao seu lado.
E te espio daqui da minha cama,
Te reprovo. Você não vale mais do que essa noite de histeria.

Eu não tenho como voltar,
vocÊ entende?

Fui outra, uma Deusa, uma moça
com a qual eu mesma casaria,
Hoje sou pranto que eu jamais encararia.

Sorte tua ter ficado com a Musa,
A poeta não vale mais do que essas linhas.

Juliana S. Müller.

O encontro

Eu vejo o seu nome Percy,
uma, duas, três vezes na mesma semana.
Até muito pouco, você não exitia.
Agora se mostra e me chama para segui-lo naquela trilha.
Eu vou.
Levo somente a vontade de encontrá-los.
Me oriento pelas pegadas que você deixou na Terra.
Encontro sinais, eles me bastam.
Não temo a morte pela boca dos índios.
Eles me reconhecem, eles me esperam em suas ocas.
Eu alimento o meu corpo e purifico meu espírito.
Os protetores do antigo templo me preparam para a sua chegada.
Eu sorrio, eu levito.
Eu não destoo do que vejo, eu me replico neles e eles me beijam.
Depois de dias naquela tribo,
experimentando nenhum medo.
Me deixam ir.
Me passam coordenadas que eu não compreendo.
Continuo seguindo seus passos Percy.
Não me perco, na selva eu vejo com os olhos das aves.
E a intenção que me move é ancestral.
Vislumbro nossos amigos de pele dourada e cabelos negros.
Olá Percy, sabia que viria para a minha chegada.
Obrigada pelo chamado.
Você continua fazendo história.
Entro para o centro da Terra.
Percy apenas me encara.

Agora vocês me procuram,
e eu não quero mais nada.
O que meu corpo experimenta é a recordação,
das cores, dos cheiros, das sombras e do sabor d'água.
Eu penso em vocês que pisam em nossas cabeças.
E não acredito na verdade que vos falta.
Eu levito como bolhas de sabão e vocês rastejam como cobras.
Não sinto pena, não sinto.
A estrela que brilha aqui incendeia as nossas almas.

Eu sento.
penso no meu filho, choro.
meu coração fala com ele todos os dias.
ele sabe da minha partida.
ele me ouve e me procura.
eu não posso buscá-lo,
mas estarei esperando no portão,
e quando chegar até aqui, nossa família celebrará o grande encontro.
Seu acento está esperando pelo seu aconchego.
você já se aproxima de nós.
Quando encontrar o caminho na selva, não regressará jamais.
Enquanto você não vem,
eu te nino em meus braços,
te conforto e aconchego.
A vida é bela demais com você por perto.
Transbordo, rebento.
repenso.
A vida é demais com você em meu templo.

Juliana S. Müller. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Califórnia queima.

Bonsoir amigos e leitores queridos. O poema de hoje é refrescante e apaixonado.
É bom relaxar no meio de tanto caos instaurado. Quem acompanha as notícias do mundo, sabe que estamos cavando um imenso buraco. Contudo, nada termina aqui, sempre haverá outros pontos, e vírgulas até o ponto final. Então vamos relaxar o espírito com um pouco de liberdade poética.

beijim e um ótimo dia para todos que me lêem e para os que acompanham a minha escrita.


07 de dezembro de 2017. quinta-feira

Primeiro eu conheci a Califórnia pelos olhos do cinema Americano.
Eu gostei, mas não me apaixonei.
Depois eu conheci a Califórnia através da era hippie,
simpatizei, sintonizei, mas não me apaixonei.
E por último e muito mais alarmante,
conheci a Califórnia pela língua vulgar daquele velho traumatizado.
Ele fez o que todos que me seduzem fazem;
Me chocou com a sua infeliz realidade.

Me convenceu a viver em um quarto miserável,
e me desprender de qualquer ordem e sanidade.
Ele me libertou dos meus pudores cristãos, 
e me deixou cara à cara com o meu escárnio.
Andei pelas ruas dos guetos de Los Angeles,
ouvi todas aquelas sirenes invadindo a cidade.
Conheci os cenários mais sórdidos, e me acostumei
me apaixonei por essa vida à revelia.
Foi pela voz rouca embriagada do velho intrépido,
que me apaixonei definitivamente pela Califórnia insolente.
Mas como todo amor tem um fim trágico...

Califórnia foi vendida para a tecnologia,
e os velhos hippies de trajes nada sofisticados foram vilipendiados,
assim como a harmonia entre, cultura e mercado, divorciados.
Hoje minha paixão queima, 
ardem as labaredas por todos os lados.
Em comum acordo entre hippies e nativos,
decidimos que nossa história teria um fim memorável.
Incendiamos a Califórnia.
Enquanto acendíamos o nosso último baseado.

Juliana S. MÜLLER.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Pensamento diário

SEXTA-FEIRA dia 01.12.2017

Ela sentou na varanda e esperou,
De repente o pensamento veio.
Era meio da tarde, o bebê dormia.
Ela aproveitou o momento para pensar,
lembrou imediatamente do filósofo que dizia,
"trabalho enquanto repouso, descanso enquanto carpino".

O trabalho é ofício de todos,
nem todos têm reconhecimento,
uns são pagos com ouro,
outros com linchamentos.

Esses versos ela fez foi de momento,
Tem dias que a veia é solta,
outros estancada como pavimento.
Hoje ela estava com o tempo livre para ser.
Mediu as últimas notícias do dia,
e sentiu que não valia o sofrer.
O mundo não acabaria com a vida,
mas a vida de muitos iriam padecer.
Ela só pensava na lista de compras,
e onde estocar tanto alimento sem ninguém perceber.
O importante era manter o corpo aquecido,
e a barriga das crias cheias por longos anos.
Na verdade só os mestres saberiam como tudo ia acontecer.

E foi esse o pensamento do dia,
Não adiantava mais maquinar a salvação do mundo.
Poucos sabiam,
mas em alguns meses toda a Terra iria escurecer.
Ela disso já entendia,
só não conseguia ainda era,
lidar com o espanto dos outros enquanto ela guardava em segredo completo,
a história que um velho lhe contara há muito tempo,
muito antes do bebê nascer.
Por alguns anos esquecera do narrado,
mas agora com as notícias que lhe trouxeram,
Não era difícil reconhecer aquela história  que,
se passava todos os dias perante seus olhos
 sem nenhum outro olhar atento para perceber.
Ela olhou para o céu azulado, e lembrou de fotografá-lo.
Seria importante que as crianças soubessem que,
o mundo fora um lugar agradável antes de toda a história da Terra anoitecer.

Lembrou de colocar mais um item na lista,
um casaco vermelho pro bebê.

Juliana S. Müller.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

não há mais compreensão.

23 de novembro de 2017

Não há nada que eu diga que Drummond e Pessoa já não tenham dito.
Mas eu me repito.
Eu repito,
e a condição humana ressignifica a palavra.
E a condição mundana não entendeu o que eu falava.
Mas eu disse com exatidão,
e o que pareciam metáforas era a visão de um clarão.
Tudo se iluminou aqui.
Foram nascendo fagulhas,
que se transformaram em chamas.
E chamas ainda ardem em mim.
Mas ao contrário do sonhado,
não falo com alguém.
Meus poemas navegam por rios marginalizados,
e agora bifurcados pela correnteza,
só navegam em um único saber.
Não espero mais aplausos,
o que eu digo ninguém vai querer saber.
Eu mesma não quereria se os lesse sem me conhecer.

Mas eu me cavei poços fundos demais,
eu naveguei em rios isolados demais.
Ancorei em margens que não saberia narrar.
Conheci histórias que não me atrevo compartilhar.

E agora eu vejo meu barco indo só por essa bifurcação,
a correnteza não me permitiria voltar,
mesmo se eu ligasse todos os motores,
morreria náufraga e não voltaria pra lá.
O lado de lá é agitado,
o tráfego é intenso e seus tripulantes riem de mim isolada no hemisfério de cá.
Eu sinalizo com gestos amistosos,
insisto em mostrar a queda d'água que há logo à frente.
Todos riem dos meus signos,
não compreendem o que eu digo.
E saboreando seus banquetes,
gracejando dos humildes barcos que viajam ao meu lado
e que começam a se avolumar,
Os tripulantes do lado de lá urram
de nossa ingenuidade nas ondas fluviais.
Todos esperam ver nossos barcos afundar,
Mas enquanto se divertem com a nossa aparente fragilidade,
nós os vemos despencar queda abaixo.
Não houve tempo de se preparar para a queda.
O rio pelo qual conduziram suas vidas,
era demasiado veloz.
Nossos conselhos foram ignorados,
nossas previsões sobre o percurso rechaçadas.
Depois da bifurcação do rio,
nem o mais exímio tripulante poderá voltar atrás.
Até chegar ali, o rio foi longo e generoso,
e a escolha é a caneta que assinamos nossas sentenças,
mas...

Eles não entenderam que não se tratava de um jogo.
Era apenas uma verdade ainda desconhecida da maioria.

Não saberemos o que aconteceu com,
os tripulantes deste lado do rio.
Continuam a sua jornada com a certeza de uma longa vida.
Só isso não basta para quem tem no peito um baú,
mas como eles só desejam o trigo,
continuam nesta fase ainda, invictos.

Juliana S. Müller

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

09 de novembro de 2017. quinta-feira

Conta menina,
conta o que cala os teus lábios.
o que descabela teus dias.
Por que teus vasos transbordam?

Conta menina,
por que teus olhos vertem água,
tua respiração ofega,
teus pés marcham pela sala?

eu imploro menina.
mostre-me esse teu saber,
o que aflige esse teu ser
que transcende as páginas afora?

vamos menina,
abra esses teus versos,
não me deixe nesse buraco negro
mostre-me as palavras que te calam o ego.

Ela se virou,
abriu primeiro, seus dois verdes universos.
me encarou profundamente,
e gentilmente me empurrou até a janela.
Ali eu não vi mais que o de sempre.
Depois colocou em minhas mãos seus multi-versos.
E disse: dispo-me de tudo o que colecionei até hoje.
Não há metafísica em nada.

e assim encerrou sua fala.

me deixou com todas aquelas constelações, galáxias,
tilintando em meu cérebro.

Eu demorei pra absorver seus multiversos.
Eu precisei morrer e renascer.
E depois de um longo tempo paralisado,
alonguei meu universo até os seus.
E não pude deixar aquela dor ali.
Eu gritei, eu urrei.
A dor impregnou em mim.

Você, estátua de buda encarnada,
só me observava, não me media.
Apontou-me a  mesma janela,
e o que eu vi foi desolador.
Não era o mesmo horizonte,
nem o mesmo sol ardia.
Pedi perdão pela minha ignorância.
Envergonhei-me da minha arrogância.
Eu nem mesmo sabia que a tinha.

Mas agora perante a sua benevolência
a sua paciência com o meu não saber.
Eu chorei, chorei, pela tua humildade de todo dia.
Como podia lavar pratos com tudo o que sabia?
Como conseguia sorrir para nós,
ao ser humilhada por não ser o que nossas palmas aplaudiam?

enquanto todos esses sentimentos rodopiavam em mim,
você sorria aliviada e eu soube.
Que a tua liberdade pela primeira vez não seria nomeada erroneamente.
Eu li nos teus ombros relaxados que não seria mais a LOUCA.
A amiga que todos olham com pena.
A mulher que nunca chegou a ser.
A que não é ouvida.
A que não move palha.
A ociosa que arrasta os chinelos.
A macunaíma.
A que não pensa no fu(tu)ro.
A que desperdiça dias.

Eu vi todos os dedos apontados,
eu presenciei as bocas gargalharem,
E as vozes sussurrarem teu nome com as desgraças de teus fracassos.

E agora que já não provocas,
Nem sai em tua defesa,
Agora que és muda.

Os falares cessam.
Os olhos interrogam.
Cada gesto procura não te desocupar.
Todos esperam que você fale.
Todos se calam pra te escutar.

Eu vi no horizonte do teu andar,
as luzes apagadas do mundo todo.
E as duas luas escuras no céu.
Você bem que podia ter dito: eu avisei.
Mas você calou seu conhecimento.
E agora você não lamenta.
Enquanto todos arrancam cabelos,
seus olhos brilham com as chamas queimando os desatinados.
Mas hoje eu sei que o riso não é escárnio.
O riso é a mudança que não admitimos.

Teu espírito ouviu as vozes da profecia.
e acalmou as angústias que te ensandeciam.

Agora eu entendo suas mudanças de humor.
seus silêncios inquebrantáveis.
Seus surtos de alegrias.
Sua ira com as mesquinharias.
E por último seu completo isolamento.

Eu assisti todos seus movimentos,
ainda assim duvidei do que viria.
Me afundei em três dimensões
as quais são corpo não mais imprimia.

Fui tolo, medíocre.
ignorei suas cartas.
Seus vídeos,
suas inúmeras falas.

O tempo não passa você dizia.
Eu acreditei que passaria.
Não passou, só completaram-se os ciclos desta vida.

Seus enigmas foram crescendo,
e inacessíveis se fizeram suas filosofias.
Quando os dias chegaram,
você estava plena, tranquila, agradecida.

EU.
histérico,
confuso,
incrédulo,
perdido,
sem rumo.

Foi quando você me pegou pela mão,
e em seu silêncio me contou o que eu não sabia.

Me mostrou seus inúmeros versos,
e então eu pude compreender
porque o mundo ruía.

Suas últimas palavras foram:
O mundo está em guerra, porque é espelho do interior do homem.
O mundo só terá paz, quando em paz estiver o homem.
Não deseje a paz, seja a paz.

Ela continuou com o mesmo semblante pleno.
Voltou a fazer seus afazeres domésticos,
enquanto eu, cego que sou,
gastei minhas últimas horas, devorando seus textos.

O homem agora, despertou.

Juliana S. Müller

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Bonjour mes amis, olhando para esse céu branco e com as células do meu corpo agitadas pelo tempo que eu penso escorrer pelos anos da minha vida, mas que não escorre em nada, já que não há tempo só há ciclos e mais vidas. Escrevo essas linhas das quais não espero mais do que o ato de escrevê-las. é que hoje é um daqueles dias que a gente se inquieta com a vida pouca que nós temos para tantas coisas conhecer. Que sufoco é isso de viver num mundo de tantas possibilidades e ser um só, com apenas umas poucas habilidades😓😓😓.

Todo o vazio será preenchido com um verbo.
Toda inquietude será amenizada com um saber.
Todo ego será apagado com o padecer.
Toda frustração nasce com o não poder.
Todo cansaço vem do sono que não pude ter.
Toda fissura foi talhada pelo ciclo do envelhecer.
Todo sorriso foi feito para transbordar o Ser.

O tempo não passa só pra você saber.
A vida é um estágio que a gente bem que tenta vencer.
Todos os ciclos terminam, para mim e pra vocês.
E a hora que nos engole vorazmente, é só mais uma ideia a perecer.

Eu posso voar daqui para qualquer mundo,
mas ainda não sei como chegar até você.

Das incongruências desta vida,
Decifrar signos é a atividade que mais me arrasa neste labirinto de caminhos saborosos que eu adivinho só com a leitura que faço dos olhos de cada um que me pergunta, e agora o que resta para você?

Juliana S. Müller

domingo, 22 de outubro de 2017

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 Myanmar afogou Mohammed


domingo, dia 22 de outubro de 2017

eu não posso mestre.
eu não consigo abrir os olhos e não indignar-me, 
ao ver aquela criança tão minha, morta com o rosto atolado na lama.
eu não me interesso pelo kharma dela,
eu apenas sinto a sua dor.
é pequeno demais pra ser um corpo em lama.
e ingênuo demais para sofrer como um pecador.

eu não sei mestre, das vidas dele passada.
eu só sei do ser frágil caído naquele rio de lama 
que não o salvou de nenhum sofrimento atroz.
eu não posso ver outro rosto se não o da minha prole
gemendo, angustiando, enquanto eu nada posso fazer.

eu afundei junto naquela lama.
e engoli a mesma água sufocante.
eu gritei pela minha mãe assim como aquela criança.
pequena demais para ser vitrine da atrocidade humana.
das diferenças mundanas, que só têm relevância neste vale de lágrimas mordaz.

eu não controlei meus músculos faciais mestre,
eu chorei, 
eu confesso mestre,
chorei.
é meu semelhante que afogou ali,
é meu semelhante que foge todo dia da perseguição assistida.
me desculpe mestre, 
eu me envolvi nesta energia,
eu não evolui neste longo dia,
eu apenas sofri.
eu pequei mestre,
eu não lavarei a minha alma,
eu levarei a dor do mundo por onde eu seguir.

uma imagem mestre...
uma imagem e eu sucumbi.

Juliana S. Müller.

domingo, 15 de outubro de 2017

Projeção

Eu aprendi a me projetar.
E agora que o universo é o meu limite, vigiarei todos os teus passos.
Saltarei todas as noites do meu corpo e
Procurarei por você.
Te visitarei noite após noite,
Só para ter certeza que as tuas páginas continuam fiéis a minha beleza.
Não me contentarei com sonhos abstratos entre nós dois.
Agora estarei sempre nos teus sapatos.
Te beijarei os lábios.
Te apalparei as coxas e você procurará a origem de toda aquela sensação invisível aos teus dois olhos claros.
Eu voarei todas as noites e me deitarei ao teu lado, até o dia em que você acorde e perceba o meu estado.
Nós voaremos juntos pelo mundo, e descobriremos juntos versos inabitados.
E nossos corpos sutis sentirão as correntes do nosso amor, como jamais sentiram nossos ossos e músculos plásticos.
Após ler esse poema aceitará o meu convite e ao deitar seus lindos cabelos loiros no travesseiro. Agarrará a minha mão e começaremos uma nova novela.
Não há o que temer.
A única diferença é que, a partir de agora, não esqueceremos jamais de nossas noites sigilosas.

A quem intetessar possa.

Juliana S. Müller.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Eu olhei nos teus olhos e vi o desperdício de uma vida inteira.
Eles não brilhavam.
Eles não guardavam o universo em si.
Não.
Seus olhos estavam úmidos. Empoeirados.
Eles fingiam uma tristeza.
Uma depressão comprada nas farmácias.
Você gastando uma encarnação inteira com essas besteiras que não acredita.
Que dissimula.
Interpreta em teu personagem.
Burrice menina. Burrice.
Ninguém vai te aplaudir no final.
Ninguém vai lamentar pela tua vida miserável.
A miséria não tem nada a ver com a pobreza do corpo.
A miséria tem a ver com a tua incapacidade de ser feliz e perceber o mundo.
Você é miserável.
De uma miserabilidade que não será perdoada.
Você vai enlouquecer quando se despir desta roupa.
Você vai chorar e dar trabalho para todos do outro lado.
Tua imaginação não é capaz de intuir o que te espera lá.
Você não queimará.
Você não será torturada.
Mas irá enlouquecer,
E gastará outra existência, até ser recuperada.

Juliana S. Müller.

sábado, 23 de setembro de 2017

A magia do Berimbau.

Bonjour leitores e amigos queridos. Com o consentimento do sono prolongado do meu filho, publico hoje esse poema que é um pedacinho da realidade que não é narrada. Das sensações que nós temos e que são confirmadas por todas as almas desencarnadas. Não falo mais a mesma língua, embora use o mesmo idioma ainda. Não posso mais ser compreendida pelas mentes que me seguem, mas isso não quer dizer nada. A arte não é entretenimento, a arte é a ferramenta mais avançada nesta superfície densa em que estamos inseridos temporariamente. Não esperem sempre afagos e beijinhos, às vezes o beijo existe na face do poema, outras não. Apenas recebam e deixem-se arrebatar, não esperem finais felizes, esperem verdades reveladoras, aceitem e compreendam as nossas possibilidades de conceber a vida multifacetada.
Eu amo todos que eu posso alcançar com uma palavra, e não espero que essa palavra seja compreendida como eu a escrevo, porque ela não será.
Recebam como puderem, eu as escrevo com o que tenho de melhor em mim, eu escrevo porque é tudo o que eu posso ofertar.
Tenham um bom fim de semana.
bisous.

Eu vi quando as sons saíram de suas cordas vocais e entrelaçaram-se com os cantos dos pássaros no topo das árvores.
Eu vi os homens balançando entre as matas pendurados em altos cipós,
Eles dançavam ao som da floresta.
Enquanto uma orquestra nunca vista aqui,
entoava as mais finas obras celestiais.
Estes cantos inofensivos e quânticos
calaram minhas mais excêntricas dúvidas existenciais.
Incendiada pelas ondas que tomavam meu centro de zinabre
Permiti que,

toda a vida selvagem me dissipasse,
tornando-me parte do movimento circular que rege o mundo e suas inúmeras faces.
Fui escorrendo pelas pedras e córregos de águas cristalinas.
Fui beijada por crianças vermelhas,
que brincavam nas minhas margens.
Desaguei em um grande rio,
até perder-me na paisagem.
Expandi meus horizontes,
e cheguei em lugares sagrados.
Consagrei-me ali,
e ali despedi-me daquela viagem.
Ancorei minha'alma naquela caverna.
E passei o resto das vidas orando pela humanidade.
Nunca salvei uma alma viva,
Mas instruí muitas a fazerem essa passagem.
Um dia eu volto de lá,
mas até esse dia chegar,
Darei a mão todas as tardes aos convidados
que desatinam ao ver a realidade.
O mundo é plural demais para quem despe-se, de mediocridades.


Essa imagem vive em mim,
eu vivo nessa imagem.
E toda a maldade terrena não será capaz de desfazê-la jamais.
Meu DNA existirá nos próximos mil anos, e com ele guardará o canto que eu ouvi essa noite das cordas que se cruzavam na floresta da minha alma e me enterneceram.
Toda a humanidade conhecerá a natureza de sua alma, e isso descongestionará as veias de toda uma história cega e torpe.
Eu vi muitas outras cenas esta noite,
Mas nenhuma me convenceu mais do que, o canto do araponga arranjado pelo berimbau.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

intempéries

DOMINGO DIA 23 DE JULHO DE 2017
o vento varre a poeira

O vento varre a poeira para dentro da minha sala.
As portas da varanda escancaram toda a rebeldia da vida lá fora.
O vento arrasta para dentro da minha casa toda a poeira roxa do oeste.
E me pega desprevenida sentada no sofá,
enraizada pela insônia das noites lactentes.

minha pele não transpira mais, sufoca.
A camada de pelo é agora uma casca vermelha enrijecida e rachada qual solo agrestil.


Petrificada ainda no sofá, sem conseguir descolar da nova camada de pele terrosa,
praguejo, enquanto ouço a tosse convulsa da minha cria no quarto ao lado.
Todos dormem,
porém eu, envelheço sob o céu seco e mortífero tenso.

Meu pensamento é saudoso.
Quem dera respirar sem engolir o ar ardiloso que entra pelas minhas narinas e arrasa todo o meu corpo. Enrijece meus alvéolos e resseca a minha língua.

Todos dormem.
E Eu espero a tosse da cria cessar, enquanto controlo a minha, com medo de que ele possa despertar.
E estremeço de horror com cada soco que seu frágil corpo recebe enquanto excreta toda a poluição do mundo grudada em seus imaculados pulmões.
Essa noite os anjos terão de dormir sozinhos,
pois a secura dos ares atingiu a nobreza da vila.
E despertou da noite intranquila a vida mais nova e franzina.
Embalo em meus braços cansados e trêmulos, o corpo pequeno.
Ele não reclama, não esbraveja, apenas libera o catarro poeirento de seus pulmões e nem mesmo pragueja contra o céu do sertão.

Eu, fêmea que sou, ataco todos os santos que permitem esse mal tempo.
Fosse eu maior que meu amor, sequestraria a Rainha dos Raios e faria ela chover até nossos vasos se encherem novamente e escorrerem pelas paredes toda a poeira acumulada.
Enquanto as ruas não virassem rios, de mim, ela não se livrava.
Mas fêmea minúscula que sou, apenas provoco.

Invoco sozinha o canto que aprendi quando criança, com a velha índia.

RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.

Mas não chove,
nada escorre do céu.
 A única nuvem que havia, desfez-se.
Agora o sol volta e queima mais um dia que impulsiona a tosse que não mais se controla,
Meus olhos ardem,
meu filho chora.
petrifico no sofá,
e sonho com a umidade e o mofo que já quis amaldiçoar.

UMIDADE ABAIXO DE 30%, uma forma perversa de me castigar.

Juliana S. Müller.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Quand le temp est court.

Bonjour amigos leitores queridos, massageando a minha alma com a possibilidade de escrever. Todos os dias eu gostaria de registrar os poemas que construo aqui e ali, "mientras" faço algo que nada tem que ver com a poesia ou o ato de escrever. Mas, cada dia tem sido mais difícil registrar os versos, e os textos que componho aqui no topo da cabeça. Isso de não ter tempo... existe.

Eu não escrevo para ser compreendida,
Quando quero ser compreendida leio outras poesias.

Eu escrevo, porque quero ser tocada pelo pensamento que me lê.
Quero ser olhada, pelos olhos que não posso adivinhar.

Eu escrevo porque o chacoalhar dos galhos das árvores deve ser eternizado.
E a sombra que o sol do entardecer faz todos os dias na parede do meu quarto
é belo demais para não estar entre os versos que guardarei em meus retratos.

Eu escrevo menos, mas escrevo mais.
Sei tão menos sobre a literatura,
Sei tão mais sobre o que vem a ser depois dela.

Então escrevo para não esquecer como é que se constroem frases.
Quando o diálogo da fala é escasso,
O verbo aqui mal empregado, ganha força e libera a minha mente.

Por fim, eu escrevo pra ter certeza que as bocas que me beijam nos sonhos à noite
saberão da minha existência quando, o choro do filho me despertar pra realidade anônima.

Ora pois, não fosse a poesia, você nem repousaria seus olhos em mim neste dia.

Juliana S. Müller.

sábado, 20 de maio de 2017

A PROPOS DE LA VIE

O entendimento do viver é a arte maior.
Mas o entendimento do morrer é a suprema arte.
Só pessoas como Pessoa são capazes de entendê-la.
e descrevê-la com o mais belos dos poemas.

Todos os dias a verdade ressoa em mim.
Não há metafísica em nada.
Tudo é físico, tudo é matéria,
mesmo que aparentemente não possamos tocar.
Saber isso é envelhecer com tranquilidade,
é ser.
É toda sabedoria que não deveria ser oculta,
O misticismo é apenas palavra criada pelos que não o sabem.
Conhecer as coisas da vida é arrancar véus,
acreditar no mistério, é embriagar-se de água não destilável.

e aceita-se tão facilmente a cegueira e sua embriaguez inconfessa,
Que não se liberta nunca das amarras.
Acredita-se facilmente no papel moeda,
e ignora-se completamente a inveracidade da morte.

Eu não morrerei.
Eu viverei eternamente, mil mundos distintos experimentarei
e voltarei um dia quando todos souberem o que fazem aqui.
Só pra sentir a paz que não encontro hoje em seus olhos.
E escancarar suas vidas agora sem mistérios, nem véus, nem complexos.

Juliana S. Müller.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Bonsoir

Bonne nuit, venho trazer um beijo de boa noite nas faces rosadas das crianças fartas, e nos rostos palidos das mães esgotadas.
Bisous.
19 de abril de 2017.

Se todo sorriso se arrancasse tão facilmente de um rosto como o teu.
existir neste mundo seria tolerável.

Se todos os olhos vislumbrassem com a simplicidade do chacoalhar das folhas do pinheiro,
amar e receber amor seria ainda mais fácil.

Se todos os olhos me decifrassem assim como os teus o fazem,
eu já não exibiria códigos, abandonaria os signos, e seguiria nua, sem camuflagens.

Se todos os olhos faiscassem como os teus, quando recebem um simples beijo na barriga,
eu abandonaria a rima só para observar todos os fogos que comporiam uma nona sinfonia.

Se todos os lábios que não emitem palavras, se pronunciassem como os teus olhos que me calam,
então meus poemas fariam sentido, quando dizem que, os olhos são as janelas da alma.

Mas nada no mundo é tão puro e sem perguntas. Nada é simples e fácil como você. Nada aqui me faz ser tão plena como te ter em meus braços e não precisar de nada para te receber. Apenas meu corpo sendo capaz de te carregar, apenas meu seio sendo capaz de alimentar, apenas meus lábios sendo capaz de te ninar, apenas meu coração sendo capaz de te decifrar.
´
Como será o meu mundo com a grandiosidade do teu ser?
Espero viver.
Mas se meu corpo padecer,
Meu verso te guiará.


Juliana S. Müller

segunda-feira, 10 de abril de 2017

bonjour

Bom dia amigos e leitores queridos, envio a vocês um poema de  domingo pra inspirar a semana de todos vocês.


Poema matinal.

Depois de sentir as cores daquele céu
norteei a bússola do meu Ser para aquele momento luzidio.
Nada que destoe daquelas cores é real.

O único céu que te acolherá é furta-cor.
Nenhum outro céu te eleva.
A casa que te gerou é a casa que te espera.

O sangue que sai das minhas veias volta a elas com a mesma violência.
Me cura, me imuniza, me fortalece, me liberta.
Um portal que me transporta para dentro de minha célula.

Nela me multiplico, me clono e volto inteira.
Restabeleço laços de vidas regressas,
E quando menos espero retornei a mim.

A maior dificuldade da Terra é aceitar essa forma geométrica
E cem anos mais, viver preso nela,
Como condição única perversa.

Por isso meu norte é aquele céu,
um céu que despertou em mim
sensação única de pertencer ao universo e não ao papel.

Juliana S. Müller.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Um poema para você que me lê e tem os olhos fundos de versos ocultos no coração e na palma da mão.


Estou com saudade de seus versos, amigo perverso.
Não leio seus livros com medo de não me encontrar ali.
Tudo o que você escreveu antes e depois de mim foram feitos para mim.
Eu sei, nem você sabe.
Mas todos os verdes olhos que você versou
foram os meus borrando a sua paisagem.
Não há dia que passe e eu não sonhe escondido.
Com o amor que não dei, e hoje, come minha carne.
A cada aborrecimento cotidiano, você cresce no meu imaginário.
A cada amor que morre, você renasce como meu destinatário.

Acredito que toda a minha vida se resolveria em você.
Mas seus olhos vitrificados miram longe...
Um longe que não me vê.
E a cada volta que Gaya da ao redor do sol, você reaparece maior.
Quanto mais longe você fica, mais meu amor se multiplica.
Mesmo que eu implorasse para o mundo acabar novamente em 40 dias.
Você se negaria, e minhas páginas queimariam mais rapidamente,
E minhas cartas se amontoariam na sua porta.
E quatro estações seriam poucas para varrer a minha sorte,
Enquanto nossos filhos crescem e continuam a nossa trajetória.
Nossos caminhos foram selados com cera de abelha,
Nada no mundo me surpreende mais do que seu nome na minha cabeceira.

Eu te espero cariño,
com a mesma paciência que me fez perversa, quando você cruzou o meu destino.
Enquanto houver versos em minhas veias, 
você será meu porto furtivo.

de sua Juh...

Trilha sonora. Volta Ana Cañas

sábado, 11 de março de 2017

Poème de samedi

Bonjour leitores e amigos queridos, um poema para sábado que é dia de ser um pouco mais livre e um pouco menos  tímido.

Bom fim de semana, e até mais.
bisous

sábado, 11 de março de 2017.


Poemas pra encher linguiça.

nem toda experiência vira poesia.
Algumas a gente inventa, outras recria.

Não sou nada além de tudo o que me criam.
Sou face de um, de outro, sou partes de outras vindas.

Há quem me reconhece, e uma minoria convicta,
mas há quem não compadece de minha divindade tão nítida.

Vivem flores silvestres, morrem flores domésticas,
O manjericão é flor que cresce só pra matar minhas expectativas.

Todo manjericão padece depois de perfumar a casa que o cria.
Todo coração enrijece com a falta de autoestima.
Toda mãe desatina com as noites insones da cria.
Todo corpo envelhece com a falta de adrenalina.

TODO VERSO É MESTRE PRA QUEM APRENDE COM A ALMA O QUE NA CARNE OBSCURECE .

De sua Juh....

quarta-feira, 8 de março de 2017

Sentimento do mundo: MULHER.

Bom dia flores do dia, hoje é um dia lindo e imensamente contagiante. Primeiro que é dia internacional das Mulheres e segundo que meu filho faz seis meses de vida na Terra, então é um dia para ser duplamente comemorado. 
Eu escrevi um texto hoje que eu nem sei como consegui, pois o tempo com o Caê é escasso e eu sempre tenho que escolher entre dormir, comer, limpar a casa, cortar as unhas dele enquanto dorme. Mas hoje deixei tudo pra lá só pra escrever o meu relato. Há muito que tento escrever o minha experiência como mulher em versos, mas parece ficar sempre obscuro e duvidoso. Hoje tive que por em prosa, porque não cabem nas rimas, o que eu senti vontade de compartilhar com vocês. 
Não escrevi esse texto com medo, nem angústia, nem ressentimento, apenas escrevi o que pra mim já é roupa batida, vivo comigo há tantos séculos que já não me surpreendo mais com o que sai de mim. 
Então deixarei para vocês um esboço do como eu me sinto mulher neste mundo, e algumas experiências com as quais me deparei ao longo da vida.

Há muitos anos eu escrevo sobre o dia das mulheres. E não há nada em mim tão natural quanto o orgulho que sinto em ser mulher. Desde que sou capaz de recordar sempre amei ser mulher. Por muitos motivos diferentes em muitos períodos diferentes eu me orgulhei de ser mulher, e ainda na minha pré-adolescência já era uma feminista mesmo mal conhecendo seu significado. Não sei como tive conhecimento da palavra feminista, nem de seu sentido, mas sei que aos 12 anos eu era bem mais radical do que aos 25. Naturalmente eu não tinha experimentado ainda o amor dos homens, por isso os considerava eternos inimigos. (Com ressalvas para o amor paterno, que tive a sorte de receber de todos os homens mais velhos da família, pai avô, tios). Mas eu não amava os homens nem os admirava como admirava as mulheres, Eu me orgulhava por não ser como eles, eu os abominava por serem tão facilmente manipuláveis pelas mulheres. Eu via minhas amigas fazendo isso todos os dias, elas usavam de seus encantos para persuadi-los a fazerem o que ela desejassem. Assim foi o início da minha adolescência, parecia que eu estava do lado de fora de tudo, sempre observando os movimentos das meninas e dos meninos, com ênfase de os meninos serem quase sempre bem mais velhos do que as meninas, o que é bem comum nos relacionamentos, já que as mulheres quase sempre amadurecem muito antes do que os homens. Não me perguntem o porquê, essa é apenas uma constatação e não um embasamento científico. Então ao ver na minha adolescência no início das minhas relações com o mundo o quanto os homens eram frágeis e impotentes perante o poder sexual, manipulador e psicológico de uma mulher, eu decidi que éramos muito melhores do que eles, e assim eu pensaria por muitos anos ainda.
Durante minha adolescência eu fiquei com inúmeros rapazes, e nunca vou esquecer da sensação de desprezo que sentia após beijar cada um deles. Era uma sensação rotineira, ia lá, beijava, depois não queria nem ver na frente, era só o prazer da conquista, só. Morria de medo de algum deles desejar um relacionamento sério, porque era impossível um namoro com seres tão involuídos. Então eu ficava no máximo duas vezes com o mesmo menino, e depois dava o fora. A maioria não ligava, alguns insistiam, e outros eu me esquivava. Foi assim por muito tempo, uns quatro anos juvenis. Eu me apaixonei por alguns e obtive recusas, mas as paixões duravam o tempo da conquista, depois de conquistar, a graça do amor logo se esvaía. Algumas vezes me sentia mal por ser assim, outras sentia-me livre como uma andorinha, dizia que seria mãe solo, independente e rica. Eu ainda não sei de onde vieram essas ideias, porque não são coisas que as pessoas me diziam. Todas as mulheres da minha família casaram por amor e alimentam seus casamentos até hoje pelo mesmo motivo. Então esse estranhamento e eterna desconfiança que eu sentia pelo sexo masculino vinha unicamente de mim, possivelmente estava guardado em meu gene, de uma vida anterior, de experiências que eu não posso recordar por serem de vidas outras, mas que certamente deixaram um alerta na minha mente. Eu nunca tive ingenuidade, tenho certeza disso, desde criança desconfio dos homens, nem o mais amável me parecia confiável. E isso se intensificou muito na puberdade, na juventude e na maturidade. Na adolescência fiz inúmeros amigos homens, me identificava muito com a irmandade, cumplicidade, lealdade, e desapego com a imagem que os meninos tinham com os seus pares. As meninas eram competitivas, fofoqueiras, más, desleais, e muito interesseiras, sem contar a parte em que a vida toda era voltada para a conquista dos homens. Eu tinha certeza na adolescência que os homens eram muito melhores amigos do que as mulheres, era assim que eu me sentia sempre, embora eu desconfiasse dos homens, e me sentisse superior a eles. Mas eu gostava da forma como se relacionavam entre si, e nisso desprezava imensamente as mulheres. Portanto na adolescência eu era capaz de afirmar que sim a amizade entre homens e mulheres era possível, e acima de tudo necessária. Mas aos 16 anos era impossível conversar com os meninos, nesse momento eu já estava experimentando o mundo com todas as minhas forças, enquanto eles ainda brincavam de vídeo-game. Era desolador, meninos com barba, altos, desenvolvidos fisicamente, completamente mirrados socialmente. Foi quando me voltei para a amizade com as meninas novamente, só elas entendiam as minhas descobertas e o relacionamento maduro que eu desejava ter. Os meninos pobres coitados, não sabiam o que esperar de suas vidas, poucos sabiam a profissão que desejariam ter, estavam se preparando para as universidades, ou sequer tinham beijado uma menina. Por isso os relacionamentos eram feitos entre meninas adolescentes e rapazes maiores de idade, porque era impossível se relacionar com um rapaz da mesma idade. A disparidade de ideias e experiências era inacreditável. Foi quando aos 17 me apaixonei por um homem 15 anos mais velho, músico (baterista), que lia, tinha experimentado o mundo como nenhum dos homens que eu conhecia tinha experimentado antes. Cozinhava maravilhosamente, entendia de vinhos, e principalmente, muito principalmente tinha uma vida espiritualizada. Foi esse um momento de ruptura na minha vida, quase tudo o que eu sabia sobre homens caía por terra. Toda aquela literatura que eu vinha lendo se transformou em vida, eu sempre acreditei que encontraria esse homem, só não esperava tão cedo. E foi quando eu me vi completamente desprevenida para o que viria.
Cordialidade, eu nunca , jamais fui uma pessoa cordial com qualquer pessoa na minha vida, sempre fui egoísta, e meu ideal feminista implícito de alguma forma no meu DNA me encorajava a ser ríspida com os homens e nenhum pouco afetiva. Foi quando conheci um homem que também se apaixonou por mim, mesmo sabendo das dificuldades que viriam, das discrepâncias pela idade, dos preconceitos nossos e alheios, e principalmente dos momentos tão distintos entre nós. Quando conheci esse homem que me fascinava, e ainda me amava mesmo com todos os meus inúmeros defeitos, porque eu me achava bem defeituosa (fisicamente é claro, porque intelectualmente sempre fui muito segura de mim), eu não imaginava que teria que mudar tanto para poder continuar me relacionando com ele. Nunca esquecerei que quando ele chegava na minha casa, minha irmã e minha mãe ofereciam água, café, algo pra comer e eu permanecia lá, sentada ao lado dele sem perceber nada disso, não via qualquer obrigação de ser gentil e lhe oferecer algo. Foi depois de inúmeras chamadas das mulheres da minha família e constrangimentos dele, que percebi o quanto ser feminista poderia me atrapalhar nesse relacionamento que eu tanto prezava. E lembrei do dia em que fui servir a comida em uma janta na casa da minha tia, e um rapaz que eu era afim, mas nem tanto, me pediu que o servisse também, e eu olhei pra ele com muita indignação e disse: Eu não nasci pra servir homem!! Isso eu disse com orgulho, e ele ficou com a face igual os relógios de Dalí. Então pra eu entender que boa parte da minha relação se basearia em agradar o outro, ser gentil, independente se fosse ele homem ou mulher, foi muito difícil, porque eu já estava aprendendo a ser gentil com as mulheres há algum tempo, mas com os homens era algo que doía em mim. E foi deixando de ser dolorido quando eu percebi que doía menos quando você cozinhava algo que agradava a pessoa que você amava, que mostrar que você se importa é algo confortável em qualquer relação que você mantiver na sua vida. E assim eu fui me convertendo de uma mulher das cavernas, para uma mulher mais calma, apaziguada e finalmente ou quase gentil. Nos dois primeiros anos do meu relacionamento fui muito gentil, gentilíssima, o amor me converteu em alguém melhor não só pro meu atual marido como também pra minha família. Mas eu abri mão de ideologias que foram ficando insustentáveis, e por um tempo quase desacreditei na união e na amizade das mulheres, quase voltei ao período em que acreditava que amizade entre mulheres eram inviáveis devido à competição e à inveja. Mas aí vieram os homens curitibanos e me mostraram que os homens não sabem se relacionar com as mulheres apenas por amizade, que elogiar um homem, ou seu trabalho é querer algo mais do que apenas ser cordial e amigável. Eu aprendi e desaprendi rapidinho a confiar nos homens, a cidade na metrópole arrancou a última gota de ingenuidade que eu tanto cultivei em mim, não restou nada. Todo o amor e confiança que eu aprendi a ter para com os homens através do meu relacionamento com o meu marido, eu perdi com a vida na metrópole. O interesse dos homens pelos quais me aproximei porque os admirava e pelos quais desejava manter uma linda e longeva amizade, laços que gostaria de criar para a posterioridade, pelo trabalho, pelas parcerias que poderiam se concretizar, viraram pó, porque os homens viram a imagem, se vislumbraram e esqueceram da amizade. Foi depois de três anos tentando estabelecer vínculos com amigos homens, que cheguei ao ápice de receber o assédio moral de um professor, que rompeu a barreira da amizade e com palavras arrancou de mim toda a desconfiança e admiração que eu nutria por sua pessoa. Desde então decidi parecer menos interessante fisicamente, e eu que era imensamente satisfeita com meu corpo, mente e alma, fui procurando de todas as formas me desconstruir, mas foi só quando cortei o cabelo que os assédios na rua deixaram de existir, foi um alívio, porque só nesse momento percebi que passava a ser invisível aos olhos dos homens. Consegui me neutralizar na sociedade, por um tempo foi muito reconfortante. mas logo eu desentristeci e achei que já podia voltar ao mundo com minha vaidade. Porque não sofreria mais na tentativa de firmar parcerias, nem tentaria ser cordial, nem gentil, nem amigável com nenhum homem que eu admirasse, porque das flores que eu colhi tudo o que aprendi foi a manter o espírito e o corpo invioláveis. Às vezes leio poemas de autores contemporâneos e sinto um desejo incontrolável de elogiar, de mostrar como aquilo foi profundo e bonito, mas há sim um bloqueio e não me permito, há um medo de ser mal interpretada e por isso prefiro guardar todos os elogios para as mulheres que eu admiro e aos homens que ainda confio, pai, irmão, avô, marido e filho. São esses os homens que ainda têm o meu amor mesmo que aos pouquinhos.  Vai ver por isso o cosmos me mandou um filho homem, pra ver se restauro a minha confiança no mundo através do amor que nunca fui capaz de depositar em nenhum homem, ou talvez pra eu criar um homem melhor pra esse mundo, um homem que seja completamente diferente dos que conheci e que provavelmente conhecerei. Espero sinceramente ao desencarnar deste mundo, ter deixado dois homens sensíveis e feministas, um eu sei que já ajudei a melhorar muito, o outro eu só posso esperar o tempo passar e ver o que fica dos valores que a gente acredita transmitir e dos amores que tentamos imprimir neles.

OBS: Sei que não me fiz tão esclarecida com esse texto, e percebam que o principal motivo para escrevê-lo é porque sinto a necessidade de escrever algo neste dia para os meus leitores. Mas como não tenho mesmo muito tempo para escrever agora, deixo esse breve relato da minha experiência feminina impressa nestas palavras que muito pouco podem retratar dos intensos momentos que experimentei vivendo o mundo desde que saí da minha cidadezinha e passei a viver em Curitiba.