sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Só penso em você quando estou no período fértil.

16 de fevereiro de 2018

Será você? O lacre no meu coração.
Teus olhos ainda voltam a me espiar,
eu sei.
Hoje você veio me ver.
Sua fisionomia era como na última vida.
Eu sei, os tempos eram outros,
mas a ousadia do amor, a mesma.
Você veio ao meu encontro, com tanta coragem
Que eu não vejo possibilidades de dizer não.
Toda a sua corpulência séria, se desfez nos meus braços.
Quando você me pegou pela cintura, 
os nós dos meus laços se desfizeram em volta do teu pescoço. 
E eu soube que era o mesmo abraço daquela nossa última fuga.
Mas da última vez, eu não estava pronta.
Escorri entre nossos corpos e fiquei de lado, pesando a culpa.
Hoje, nenhum pensamento me perturba.
Quando suas asas enroscam nas minhas, eu me deleito em seu voo
E viajo para os extremos intocados de nossos amores interrompidos.
Você arranca os lacres do meu peito,
e liberta toda a existência dolorosa de uma dúvida.
Inspiro com meus lábios colados nos seus.
Nosso primeiro beijo,
nossa última vida.
Nos amaremos do outro lado do espelho,
Pois deste lado, já queimamos as nossas fichas.

Juliana S. Müller.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A era da luz.


29 de janeiro de 2018.

Não há passado,
há uma história constante
e tudo vive em mim.
Nada fica para traz,
tudo vem comigo
na experiência e na memória que é eterna e essencial.

Hoje despi-me de mim mesma,
e olhei aqueles álbuns antigos
com a curiosidade de outrem,
e descobri um ser celestial.
Como não invejar aquela menina
Toda a felicidade de uma vida mora ali.
Aqueles olhos não conhecem lágrimas
Aquela boca nunca despejou palavras odiosas.
Notadamente sua vida é grandiosa.

Quem merece tanto amor?
Quem é que pode ser tão feliz aqui?
Ela não parecia desta pátria,
Suas cores áuricas não são daqui.

Aquela jovem sorridente
com a língua de fora,
com a vida que um dia eu almejei pra mim.
Quem é essa jovem tão intocável,
completamente alheia a tudo o que é vil?
Ela, personagem de minhas histórias,
tão sábia de suas escolhas,
tão teimosa em seu caminho,
quem a concebeu assim?

Se me recordo bem,
essa jovem destemida
com ar de menina de fora
que esbanja estranheza e amor,
é essa velha que hoje vos fala.
Uma senhora completamente perdida
entre suas idas e suas vindas
esquecida de suas amigas
e repelida de qualquer honor.

Essa menina mora em minha casa,
me visita quando a força me falta
e me pede calma em dias de estopim.

Ela não entende que aqui dentro há uma falha,
um desastre geológico que a esta altura irrompeu em mim.

Seus olhos me espiam e sua voz me acalma,
Mas basta para que ela se vá
pra que eu me perca completamente e
volte a sentir o mesmo aperto chakra
Onde antigamente repousavam os querubins.


Não importa se ela vai e volta,
Eu fui ela um dia
e me orgulho de sua história.
Uma moça tão digna e de preceitos,
não pode terminar sem um final feliz.

Eu te disse que essa trajetória
não te traria glórias,
e que um belo dia
tudo estaria por vir.

A cada sete anos, giram a roda samsãra
E arrancam as máscaras que você
Não mais usará, quando enfim se despir.


Não me decepcione menina,
o mundo te aguarda
e enquanto você se prepara
eu cuido da tua casa
até que você saia novamente do livro
e mostre ao mundo o sorriso que ele merece saber.

Fecho o álbum de fotos,
com a sensação de um passado remoto
Que me sacode qual terremoto
E faz meu presente se ressentir.
O intelecto amadurece,
o espírito rejuvenesce.
Não fosse a vida assim,
Não saberia eu amar o fim.




Juliana S. Müller. 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Ato 5 da profecia. O fim do ciclo.

29. 01.2018

Eu já li tudo o que eu poderia ler sobre o fim do ciclo.
Todas as possibilidades de como essa transição aconteceria, e já vi diante dos meus olhos o céu despejar todo o tipo de desgraças.
Hoje após viver a morte com a queda de um meteoro, encerrei meu ciclo apocalíptico.
Eu sei, ele virá tão certo quanto o respirar, porém eu, não mais desperdiçarei energia , nem lutarei contra a realidade dos dias cotidianos. Voltarei novamente meus olhos para o que faz meu coração vibrar, para a literatura da minha vida. Para as leituras que me transportam para meu verdadeiro eu.
Se me dissessem que nunca em outra vida eu li poesias, nunca fui cantora de incríveis melodias, eu negaria. Não acreditaria porque sinto em cada célula de meu ser essa eterna sinfonia de letras e ritmos que me tocam todos os dias.
O dia que o fim vier eu estarei pronta, com os olhos postos no mais belo livro de versos.
Espero ser a centelha de amor do meu próprio ser.
Amém.

Juliana s. Müller.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Ato 4 da profecia. olhares permissivos.


25 de janeiro de 2018

Todos os massacres estão sendo ignorados.
Ninguém para os senhores da guerra.
Todos têm olhares desatentos, 
Todos os umbigos centralizados.
Nunca o ego foi tão globalizado.
Ninguém mais pede pela paz mundial,
Todos compactuam com o CAOS.

Todos os conflitos já foram instaurados e inflamados,
Uns fanáticos, 
outros mercenários.
Nem mesmo os argumentos foram validados.

A guerra se faz com armas,
mentes vazias,
e capachos.

Em verdade vos digo,
Não vejo nenhum de nós impedindo o fim,
Estamos todos alimentando este triste cenário.

Nós ainda não enxergamos o astral e
ainda vemos nos objetos o status.

Não vejo sinal de luz,
só vejo sinal de fogo.

Meus olhos não criaram essa ilusão,
Eu vi o sinal nos desencarnes desenfreados.

Todos os dias um tremor de terra,
todos os dias um vulcão em colapso.
Todos os dias um novo conflito instaurado.

Desta vez ninguém ousa nomear o mau instalado.
Informantes desviam do óbvio,
leitores não conectam os pontos.
O intelecto foi comercializado pelo telefone móvel.
As discussões giram em torno de quinquilharias sem propósito.

Nas bocas, músicas vexatórias ressoam em coro.
Nos olhos, o reflexo dos corpos pré-fabricados.
Nos pés, o chão estéril, um solo seco e envenenado.

E vocês não perdem tempo com o mundo,
No entanto não há mesmo tempo.

Suas cegueiras os fecharam em um baú de aço.
E o relógio marca um minuto para o nosso fracasso.
Quando as doze badaladas do relógio ressoarem,
Todos viraremos destroços.
E a história será contada lá do alto.
Enquanto todos encontram uma maneira de não serem exilados.

Em verdade vos digo,
Enquanto voltamos nossos olhos para vislumbrar o por do sol,
no outro lado  do horizonte há um corpo despedaçado.


Em verdade vos digo,
Quando nos virarmos com horror para olhar a grande guerra,
nossos pés já serão capazes de sentir o tremor de Terra.
E então finalmente, só sobrarão as pedras.


Juliana S. Müller

sábado, 13 de janeiro de 2018

ATO 3 da profecia. O homem primitivo continua no poder.



Nada muda no mundo,
quando nada mudou em nós.

Eu refleti os reflexos que há em vocês,
e vi só o conflito crescendo.

Em seus olhos há medo,
Em seus corações desejos.
Em suas mentes conceitos velhos e robóticos.
Vocês não pensam,
Vocês realmente não sentem.
Vocês nem mais vislumbram a realidade.
Vocês estão muito longe de encontrar as suas verdades.

Eu vi tudo isso apenas olhando para vocês.
Eu vi o fim de uma era, apenas observando seus passos.
Não eram passos.
Eram corridas do ego.

E nada do que dizíamos esclareciam as suas ideias.
Vocês afundaram demais a cabeça na areia.
Desligaram-se da nossa tomada.
E durante milênios os avatares falaram, criaram,
e vocês ainda não encontraram o que há dentro de vós.

O conflito não pode mais ser tolerado.
Seus espíritos já estão velhos e gastos.
Não servem mais para explicar seus atos falhos.
Eu amo todos vocês.
Amo a forma como são capazes de construir o mundo.
Amo os perfumes que criaram,
os incensos que acendem ao meditar.
As cores de seus tecidos.
As músicas e toda a arte que são capazes de criar.
Mas vocês são livres.
E quando pegam no tacape tornam-se ogros.
O mundo não suporta mais esse instinto áspero .

Vocês serão libertados deste fardo,
mas não esqueçam que a vida continua deste outro lado.

A salvação só existe na tradução dos seus medos mitificados.
Não há ninguém capaz de te salvar do seu estado devastado.
Só os seus esforços serão considerados.
Não terceirize sua própria história.
Tem um homem anotando o caminho de cada divina alma.

O mar resgatará muitos de vocês agora,
enquanto a terra engolirá a outra parte que não gosta de água.

Não prometam e nem peçam nada para seu próximo ano de vida.
Comece agora a meditar e a pesar o que você fez desta sua jornada
e me conte como você fará para livrar sua alma,
se ainda nem conhece as leis que te guiam?


Juliana S. Müller.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Ato 2.

Acompanho seus passos como uma viciada acompanha sua droga.
Todas as notícias são a seu respeito.
Tudo neste mundo nos leva a esse encontro fatídico.
A espera solitária pelo fim dos dias é uma provação.
Vejo o seu rosto em todas as catástrofes diárias.
Só há desastres, nada de calma.

Eu vasculho pela internet tudo que me desminta você.
Mas não há um único livro profético que te altere.
Você é a única escolha desta geração.
Corremos nesta guerra-fria, com todas as armas nas mãos.

Eu não participo deste fim.
Minha ação será no início do ciclo.
Enquanto isso dobro os joelhos e clamo ao homem.
Mas o homem dorme o sono profundo.
Só vejo sua face em meus sonhos.
E a cada vez você se mostra diferente.
Me confunde, mas jamais  se desmente.
Mas agora você não me assusta mais.
Não importa a violência com que apareça.
Já é conhecida a tua obra.
Já é conhecido o nosso fim.

O calendário será queimado em breve.
E as horas não serão mais sentidas.
Quando o teu hálito quente abraçar nossas almas.
Todos os rostos se voltarão para o chão.
Mas eu te olharei nos olhos,
eu que contigo me familiarizei.
Não questionarei a tua ira.
Apenas irei meditar em face das estrelas.
nada sobrará nesta Terra que seja capaz de nos abrandar.
Mas eu prometo a você, que não irei desatinar.
Seguirei com o planejado,
e enquanto você estiver sacudindo os trópicos
eu já não estarei mais lá para te interrogar.

Lamentarei por nossas terras,
lamentarei por nossos amigos.
Mas bem sei que haverá pouco para lamentar.
Além do mais, há refúgio bastante nos teus céus.

Mas eu,
esperarei que tua tpm passe bem longe do teu mar.
Sei que na minha toca de índio você não irá me encontrar.

Dormirei sob o teu céu tenso.
e me acalentarei na fogueira dos auto-escolhidos.
Não disse que não tremerei com teu humor destruidor,
apenas não cairei sob teu mar,
nem afogarei nas tuas lágrimas.
Não tropeçarei nas fendas de teus tremores,
nem serei engolida por tuas terras.

Você me sacudirá de cima a baixo,
mas lá no centro, sei que terei lar.


Juliana S. Müller

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Ato 1 da profecia.

05 DE JANEIRO DE 2018. sexta-feira

Não tenho mais ruminações.

apenas espero.
imagino.
baseada nas profecias antigas aguardo.
Sei qual estrada me levará à Terra prometida.
Muitos dedos me apontaram a direção do alto paraíso,
e mesmo que teus pés empaquem aqui, eu viajarei para lá.
já descobri nosso futuro nas linhas dos homens desencarnados.
Muitos me contam sobre nosso futuro escasso.
Eu não duvido. 
Decido não encontrar trabalho.
sou livre.
Ser livre é que é ter trabalho.
Quando tua mente se abrir como castanha. 
Verás que das loucuras que te conto.
Não há uma que não deva ser encarada com urgência de Estado.
Não entendo.
Por que de tantas cabeças pensantes,
a minha é que tem que conhecer o destino tão claro?
Se todos esses meus amigos raros,
imersos em suas ilhas paradisíacas se afogam no raso,
e eu conhecedora de seus destinos me calo. não falo.
Quem sou eu? 
Eu sou alguém?
Ninguém me proíbe, 
apenas minha lucidez social me impede.
Se eu falasse eloquentemente sobre nosso fim,
todos ririam, chorariam, teriam pena de mim.
Mas ninguém me seguiria para o centro do país.
Seria eu e nosso filho, 
dois corpos fugindo para o prelúdio da transição.
Quando o relógio marcar 142018. 
já não estaremos mais aqui.
Observaremos através do espelho d'água,
toda a massa da terra ruir.
Só restarão as montanhas que aguardam nossos pés
só estas permanecerão intactas, para que possamos subir.
Enquanto avistamos ao longe as águas fluírem até aqui.

Juliana S. Müller


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Só escrevo para você quando estou bêbada.

se eu voltar será para te olhar nos olhos.
mesmo que eles sejam repugnantes.
Mesmo que o tempo entre você e eu tenha queimado os amores,
os versos persistem, foram feitos para a eternidade.
em todos os cantos dos multiversos o nosso sopro de poesia vai estar.
Para aonde eu for, levarei nossos poemas comigo.

Mas eu não volto, você sabe.
Por isso não me responde mais.
Um dia desses apareço na tua página
e então você terá que me encarar, cara.

Vai olhar para dentro do meu corpo
e extrair do meu sangue o vinho que te embriaga
e te instiga e te faz querer escrever sem parar.
De mim você não vai se livrar,
Não sei quantas musas receberam suas juras de amor.
Mas poeta tenho certeza. Uma.

Você vai voltar,
e quando voltar terá um livro pra descobrir.
Em seu nome.
Você será conhecido pela pela mão da Musa que te pariu.
Você será ridicularizado pela poeta que o feriu.

Você se esconde em todos as sombras do existir,
mas nos versos te acho, e me encaixo ao seu lado.
E te espio daqui da minha cama,
Te reprovo. Você não vale mais do que essa noite de histeria.

Eu não tenho como voltar,
vocÊ entende?

Fui outra, uma Deusa, uma moça
com a qual eu mesma casaria,
Hoje sou pranto que eu jamais encararia.

Sorte tua ter ficado com a Musa,
A poeta não vale mais do que essas linhas.

Juliana S. Müller.

O encontro

Eu vejo o seu nome Percy,
uma, duas, três vezes na mesma semana.
Até muito pouco, você não exitia.
Agora se mostra e me chama para segui-lo naquela trilha.
Eu vou.
Levo somente a vontade de encontrá-los.
Me oriento pelas pegadas que você deixou na Terra.
Encontro sinais, eles me bastam.
Não temo a morte pela boca dos índios.
Eles me reconhecem, eles me esperam em suas ocas.
Eu alimento o meu corpo e purifico meu espírito.
Os protetores do antigo templo me preparam para a sua chegada.
Eu sorrio, eu levito.
Eu não destoo do que vejo, eu me replico neles e eles me beijam.
Depois de dias naquela tribo,
experimentando nenhum medo.
Me deixam ir.
Me passam coordenadas que eu não compreendo.
Continuo seguindo seus passos Percy.
Não me perco, na selva eu vejo com os olhos das aves.
E a intenção que me move é ancestral.
Vislumbro nossos amigos de pele dourada e cabelos negros.
Olá Percy, sabia que viria para a minha chegada.
Obrigada pelo chamado.
Você continua fazendo história.
Entro para o centro da Terra.
Percy apenas me encara.

Agora vocês me procuram,
e eu não quero mais nada.
O que meu corpo experimenta é a recordação,
das cores, dos cheiros, das sombras e do sabor d'água.
Eu penso em vocês que pisam em nossas cabeças.
E não acredito na verdade que vos falta.
Eu levito como bolhas de sabão e vocês rastejam como cobras.
Não sinto pena, não sinto.
A estrela que brilha aqui incendeia as nossas almas.

Eu sento.
penso no meu filho, choro.
meu coração fala com ele todos os dias.
ele sabe da minha partida.
ele me ouve e me procura.
eu não posso buscá-lo,
mas estarei esperando no portão,
e quando chegar até aqui, nossa família celebrará o grande encontro.
Seu acento está esperando pelo seu aconchego.
você já se aproxima de nós.
Quando encontrar o caminho na selva, não regressará jamais.
Enquanto você não vem,
eu te nino em meus braços,
te conforto e aconchego.
A vida é bela demais com você por perto.
Transbordo, rebento.
repenso.
A vida é demais com você em meu templo.

Juliana S. Müller. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Califórnia queima.

Bonsoir amigos e leitores queridos. O poema de hoje é refrescante e apaixonado.
É bom relaxar no meio de tanto caos instaurado. Quem acompanha as notícias do mundo, sabe que estamos cavando um imenso buraco. Contudo, nada termina aqui, sempre haverá outros pontos, e vírgulas até o ponto final. Então vamos relaxar o espírito com um pouco de liberdade poética.

beijim e um ótimo dia para todos que me lêem e para os que acompanham a minha escrita.


07 de dezembro de 2017. quinta-feira

Primeiro eu conheci a Califórnia pelos olhos do cinema Americano.
Eu gostei, mas não me apaixonei.
Depois eu conheci a Califórnia através da era hippie,
simpatizei, sintonizei, mas não me apaixonei.
E por último e muito mais alarmante,
conheci a Califórnia pela língua vulgar daquele velho traumatizado.
Ele fez o que todos que me seduzem fazem;
Me chocou com a sua infeliz realidade.

Me convenceu a viver em um quarto miserável,
e me desprender de qualquer ordem e sanidade.
Ele me libertou dos meus pudores cristãos, 
e me deixou cara à cara com o meu escárnio.
Andei pelas ruas dos guetos de Los Angeles,
ouvi todas aquelas sirenes invadindo a cidade.
Conheci os cenários mais sórdidos, e me acostumei
me apaixonei por essa vida à revelia.
Foi pela voz rouca embriagada do velho intrépido,
que me apaixonei definitivamente pela Califórnia insolente.
Mas como todo amor tem um fim trágico...

Califórnia foi vendida para a tecnologia,
e os velhos hippies de trajes nada sofisticados foram vilipendiados,
assim como a harmonia entre, cultura e mercado, divorciados.
Hoje minha paixão queima, 
ardem as labaredas por todos os lados.
Em comum acordo entre hippies e nativos,
decidimos que nossa história teria um fim memorável.
Incendiamos a Califórnia.
Enquanto acendíamos o nosso último baseado.

Juliana S. MÜLLER.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Pensamento diário

SEXTA-FEIRA dia 01.12.2017

Ela sentou na varanda e esperou,
De repente o pensamento veio.
Era meio da tarde, o bebê dormia.
Ela aproveitou o momento para pensar,
lembrou imediatamente do filósofo que dizia,
"trabalho enquanto repouso, descanso enquanto carpino".

O trabalho é ofício de todos,
nem todos têm reconhecimento,
uns são pagos com ouro,
outros com linchamentos.

Esses versos ela fez foi de momento,
Tem dias que a veia é solta,
outros estancada como pavimento.
Hoje ela estava com o tempo livre para ser.
Mediu as últimas notícias do dia,
e sentiu que não valia o sofrer.
O mundo não acabaria com a vida,
mas a vida de muitos iriam padecer.
Ela só pensava na lista de compras,
e onde estocar tanto alimento sem ninguém perceber.
O importante era manter o corpo aquecido,
e a barriga das crias cheias por longos anos.
Na verdade só os mestres saberiam como tudo ia acontecer.

E foi esse o pensamento do dia,
Não adiantava mais maquinar a salvação do mundo.
Poucos sabiam,
mas em alguns meses toda a Terra iria escurecer.
Ela disso já entendia,
só não conseguia ainda era,
lidar com o espanto dos outros enquanto ela guardava em segredo completo,
a história que um velho lhe contara há muito tempo,
muito antes do bebê nascer.
Por alguns anos esquecera do narrado,
mas agora com as notícias que lhe trouxeram,
Não era difícil reconhecer aquela história  que,
se passava todos os dias perante seus olhos
 sem nenhum outro olhar atento para perceber.
Ela olhou para o céu azulado, e lembrou de fotografá-lo.
Seria importante que as crianças soubessem que,
o mundo fora um lugar agradável antes de toda a história da Terra anoitecer.

Lembrou de colocar mais um item na lista,
um casaco vermelho pro bebê.

Juliana S. Müller.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

não há mais compreensão.

23 de novembro de 2017

Não há nada que eu diga que Drummond e Pessoa já não tenham dito.
Mas eu me repito.
Eu repito,
e a condição humana ressignifica a palavra.
E a condição mundana não entendeu o que eu falava.
Mas eu disse com exatidão,
e o que pareciam metáforas era a visão de um clarão.
Tudo se iluminou aqui.
Foram nascendo fagulhas,
que se transformaram em chamas.
E chamas ainda ardem em mim.
Mas ao contrário do sonhado,
não falo com alguém.
Meus poemas navegam por rios marginalizados,
e agora bifurcados pela correnteza,
só navegam em um único saber.
Não espero mais aplausos,
o que eu digo ninguém vai querer saber.
Eu mesma não quereria se os lesse sem me conhecer.

Mas eu me cavei poços fundos demais,
eu naveguei em rios isolados demais.
Ancorei em margens que não saberia narrar.
Conheci histórias que não me atrevo compartilhar.

E agora eu vejo meu barco indo só por essa bifurcação,
a correnteza não me permitiria voltar,
mesmo se eu ligasse todos os motores,
morreria náufraga e não voltaria pra lá.
O lado de lá é agitado,
o tráfego é intenso e seus tripulantes riem de mim isolada no hemisfério de cá.
Eu sinalizo com gestos amistosos,
insisto em mostrar a queda d'água que há logo à frente.
Todos riem dos meus signos,
não compreendem o que eu digo.
E saboreando seus banquetes,
gracejando dos humildes barcos que viajam ao meu lado
e que começam a se avolumar,
Os tripulantes do lado de lá urram
de nossa ingenuidade nas ondas fluviais.
Todos esperam ver nossos barcos afundar,
Mas enquanto se divertem com a nossa aparente fragilidade,
nós os vemos despencar queda abaixo.
Não houve tempo de se preparar para a queda.
O rio pelo qual conduziram suas vidas,
era demasiado veloz.
Nossos conselhos foram ignorados,
nossas previsões sobre o percurso rechaçadas.
Depois da bifurcação do rio,
nem o mais exímio tripulante poderá voltar atrás.
Até chegar ali, o rio foi longo e generoso,
e a escolha é a caneta que assinamos nossas sentenças,
mas...

Eles não entenderam que não se tratava de um jogo.
Era apenas uma verdade ainda desconhecida da maioria.

Não saberemos o que aconteceu com,
os tripulantes deste lado do rio.
Continuam a sua jornada com a certeza de uma longa vida.
Só isso não basta para quem tem no peito um baú,
mas como eles só desejam o trigo,
continuam nesta fase ainda, invictos.

Juliana S. Müller

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

09 de novembro de 2017. quinta-feira

Conta menina,
conta o que cala os teus lábios.
o que descabela teus dias.
Por que teus vasos transbordam?

Conta menina,
por que teus olhos vertem água,
tua respiração ofega,
teus pés marcham pela sala?

eu imploro menina.
mostre-me esse teu saber,
o que aflige esse teu ser
que transcende as páginas afora?

vamos menina,
abra esses teus versos,
não me deixe nesse buraco negro
mostre-me as palavras que te calam o ego.

Ela se virou,
abriu primeiro, seus dois verdes universos.
me encarou profundamente,
e gentilmente me empurrou até a janela.
Ali eu não vi mais que o de sempre.
Depois colocou em minhas mãos seus multi-versos.
E disse: dispo-me de tudo o que colecionei até hoje.
Não há metafísica em nada.

e assim encerrou sua fala.

me deixou com todas aquelas constelações, galáxias,
tilintando em meu cérebro.

Eu demorei pra absorver seus multiversos.
Eu precisei morrer e renascer.
E depois de um longo tempo paralisado,
alonguei meu universo até os seus.
E não pude deixar aquela dor ali.
Eu gritei, eu urrei.
A dor impregnou em mim.

Você, estátua de buda encarnada,
só me observava, não me media.
Apontou-me a  mesma janela,
e o que eu vi foi desolador.
Não era o mesmo horizonte,
nem o mesmo sol ardia.
Pedi perdão pela minha ignorância.
Envergonhei-me da minha arrogância.
Eu nem mesmo sabia que a tinha.

Mas agora perante a sua benevolência
a sua paciência com o meu não saber.
Eu chorei, chorei, pela tua humildade de todo dia.
Como podia lavar pratos com tudo o que sabia?
Como conseguia sorrir para nós,
ao ser humilhada por não ser o que nossas palmas aplaudiam?

enquanto todos esses sentimentos rodopiavam em mim,
você sorria aliviada e eu soube.
Que a tua liberdade pela primeira vez não seria nomeada erroneamente.
Eu li nos teus ombros relaxados que não seria mais a LOUCA.
A amiga que todos olham com pena.
A mulher que nunca chegou a ser.
A que não é ouvida.
A que não move palha.
A ociosa que arrasta os chinelos.
A macunaíma.
A que não pensa no fu(tu)ro.
A que desperdiça dias.

Eu vi todos os dedos apontados,
eu presenciei as bocas gargalharem,
E as vozes sussurrarem teu nome com as desgraças de teus fracassos.

E agora que já não provocas,
Nem sai em tua defesa,
Agora que és muda.

Os falares cessam.
Os olhos interrogam.
Cada gesto procura não te desocupar.
Todos esperam que você fale.
Todos se calam pra te escutar.

Eu vi no horizonte do teu andar,
as luzes apagadas do mundo todo.
E as duas luas escuras no céu.
Você bem que podia ter dito: eu avisei.
Mas você calou seu conhecimento.
E agora você não lamenta.
Enquanto todos arrancam cabelos,
seus olhos brilham com as chamas queimando os desatinados.
Mas hoje eu sei que o riso não é escárnio.
O riso é a mudança que não admitimos.

Teu espírito ouviu as vozes da profecia.
e acalmou as angústias que te ensandeciam.

Agora eu entendo suas mudanças de humor.
seus silêncios inquebrantáveis.
Seus surtos de alegrias.
Sua ira com as mesquinharias.
E por último seu completo isolamento.

Eu assisti todos seus movimentos,
ainda assim duvidei do que viria.
Me afundei em três dimensões
as quais são corpo não mais imprimia.

Fui tolo, medíocre.
ignorei suas cartas.
Seus vídeos,
suas inúmeras falas.

O tempo não passa você dizia.
Eu acreditei que passaria.
Não passou, só completaram-se os ciclos desta vida.

Seus enigmas foram crescendo,
e inacessíveis se fizeram suas filosofias.
Quando os dias chegaram,
você estava plena, tranquila, agradecida.

EU.
histérico,
confuso,
incrédulo,
perdido,
sem rumo.

Foi quando você me pegou pela mão,
e em seu silêncio me contou o que eu não sabia.

Me mostrou seus inúmeros versos,
e então eu pude compreender
porque o mundo ruía.

Suas últimas palavras foram:
O mundo está em guerra, porque é espelho do interior do homem.
O mundo só terá paz, quando em paz estiver o homem.
Não deseje a paz, seja a paz.

Ela continuou com o mesmo semblante pleno.
Voltou a fazer seus afazeres domésticos,
enquanto eu, cego que sou,
gastei minhas últimas horas, devorando seus textos.

O homem agora, despertou.

Juliana S. Müller

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Bonjour mes amis, olhando para esse céu branco e com as células do meu corpo agitadas pelo tempo que eu penso escorrer pelos anos da minha vida, mas que não escorre em nada, já que não há tempo só há ciclos e mais vidas. Escrevo essas linhas das quais não espero mais do que o ato de escrevê-las. é que hoje é um daqueles dias que a gente se inquieta com a vida pouca que nós temos para tantas coisas conhecer. Que sufoco é isso de viver num mundo de tantas possibilidades e ser um só, com apenas umas poucas habilidades😓😓😓.

Todo o vazio será preenchido com um verbo.
Toda inquietude será amenizada com um saber.
Todo ego será apagado com o padecer.
Toda frustração nasce com o não poder.
Todo cansaço vem do sono que não pude ter.
Toda fissura foi talhada pelo ciclo do envelhecer.
Todo sorriso foi feito para transbordar o Ser.

O tempo não passa só pra você saber.
A vida é um estágio que a gente bem que tenta vencer.
Todos os ciclos terminam, para mim e pra vocês.
E a hora que nos engole vorazmente, é só mais uma ideia a perecer.

Eu posso voar daqui para qualquer mundo,
mas ainda não sei como chegar até você.

Das incongruências desta vida,
Decifrar signos é a atividade que mais me arrasa neste labirinto de caminhos saborosos que eu adivinho só com a leitura que faço dos olhos de cada um que me pergunta, e agora o que resta para você?

Juliana S. Müller

domingo, 22 de outubro de 2017

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 Myanmar afogou Mohammed


domingo, dia 22 de outubro de 2017

eu não posso mestre.
eu não consigo abrir os olhos e não indignar-me, 
ao ver aquela criança tão minha, morta com o rosto atolado na lama.
eu não me interesso pelo kharma dela,
eu apenas sinto a sua dor.
é pequeno demais pra ser um corpo em lama.
e ingênuo demais para sofrer como um pecador.

eu não sei mestre, das vidas dele passada.
eu só sei do ser frágil caído naquele rio de lama 
que não o salvou de nenhum sofrimento atroz.
eu não posso ver outro rosto se não o da minha prole
gemendo, angustiando, enquanto eu nada posso fazer.

eu afundei junto naquela lama.
e engoli a mesma água sufocante.
eu gritei pela minha mãe assim como aquela criança.
pequena demais para ser vitrine da atrocidade humana.
das diferenças mundanas, que só têm relevância neste vale de lágrimas mordaz.

eu não controlei meus músculos faciais mestre,
eu chorei, 
eu confesso mestre,
chorei.
é meu semelhante que afogou ali,
é meu semelhante que foge todo dia da perseguição assistida.
me desculpe mestre, 
eu me envolvi nesta energia,
eu não evolui neste longo dia,
eu apenas sofri.
eu pequei mestre,
eu não lavarei a minha alma,
eu levarei a dor do mundo por onde eu seguir.

uma imagem mestre...
uma imagem e eu sucumbi.

Juliana S. Müller.

domingo, 15 de outubro de 2017

Projeção

Eu aprendi a me projetar.
E agora que o universo é o meu limite, vigiarei todos os teus passos.
Saltarei todas as noites do meu corpo e
Procurarei por você.
Te visitarei noite após noite,
Só para ter certeza que as tuas páginas continuam fiéis a minha beleza.
Não me contentarei com sonhos abstratos entre nós dois.
Agora estarei sempre nos teus sapatos.
Te beijarei os lábios.
Te apalparei as coxas e você procurará a origem de toda aquela sensação invisível aos teus dois olhos claros.
Eu voarei todas as noites e me deitarei ao teu lado, até o dia em que você acorde e perceba o meu estado.
Nós voaremos juntos pelo mundo, e descobriremos juntos versos inabitados.
E nossos corpos sutis sentirão as correntes do nosso amor, como jamais sentiram nossos ossos e músculos plásticos.
Após ler esse poema aceitará o meu convite e ao deitar seus lindos cabelos loiros no travesseiro. Agarrará a minha mão e começaremos uma nova novela.
Não há o que temer.
A única diferença é que, a partir de agora, não esqueceremos jamais de nossas noites sigilosas.

A quem intetessar possa.

Juliana S. Müller.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Eu olhei nos teus olhos e vi o desperdício de uma vida inteira.
Eles não brilhavam.
Eles não guardavam o universo em si.
Não.
Seus olhos estavam úmidos. Empoeirados.
Eles fingiam uma tristeza.
Uma depressão comprada nas farmácias.
Você gastando uma encarnação inteira com essas besteiras que não acredita.
Que dissimula.
Interpreta em teu personagem.
Burrice menina. Burrice.
Ninguém vai te aplaudir no final.
Ninguém vai lamentar pela tua vida miserável.
A miséria não tem nada a ver com a pobreza do corpo.
A miséria tem a ver com a tua incapacidade de ser feliz e perceber o mundo.
Você é miserável.
De uma miserabilidade que não será perdoada.
Você vai enlouquecer quando se despir desta roupa.
Você vai chorar e dar trabalho para todos do outro lado.
Tua imaginação não é capaz de intuir o que te espera lá.
Você não queimará.
Você não será torturada.
Mas irá enlouquecer,
E gastará outra existência, até ser recuperada.

Juliana S. Müller.

sábado, 23 de setembro de 2017

A magia do Berimbau.

Bonjour leitores e amigos queridos. Com o consentimento do sono prolongado do meu filho, publico hoje esse poema que é um pedacinho da realidade que não é narrada. Das sensações que nós temos e que são confirmadas por todas as almas desencarnadas. Não falo mais a mesma língua, embora use o mesmo idioma ainda. Não posso mais ser compreendida pelas mentes que me seguem, mas isso não quer dizer nada. A arte não é entretenimento, a arte é a ferramenta mais avançada nesta superfície densa em que estamos inseridos temporariamente. Não esperem sempre afagos e beijinhos, às vezes o beijo existe na face do poema, outras não. Apenas recebam e deixem-se arrebatar, não esperem finais felizes, esperem verdades reveladoras, aceitem e compreendam as nossas possibilidades de conceber a vida multifacetada.
Eu amo todos que eu posso alcançar com uma palavra, e não espero que essa palavra seja compreendida como eu a escrevo, porque ela não será.
Recebam como puderem, eu as escrevo com o que tenho de melhor em mim, eu escrevo porque é tudo o que eu posso ofertar.
Tenham um bom fim de semana.
bisous.

Eu vi quando as sons saíram de suas cordas vocais e entrelaçaram-se com os cantos dos pássaros no topo das árvores.
Eu vi os homens balançando entre as matas pendurados em altos cipós,
Eles dançavam ao som da floresta.
Enquanto uma orquestra nunca vista aqui,
entoava as mais finas obras celestiais.
Estes cantos inofensivos e quânticos
calaram minhas mais excêntricas dúvidas existenciais.
Incendiada pelas ondas que tomavam meu centro de zinabre
Permiti que,

toda a vida selvagem me dissipasse,
tornando-me parte do movimento circular que rege o mundo e suas inúmeras faces.
Fui escorrendo pelas pedras e córregos de águas cristalinas.
Fui beijada por crianças vermelhas,
que brincavam nas minhas margens.
Desaguei em um grande rio,
até perder-me na paisagem.
Expandi meus horizontes,
e cheguei em lugares sagrados.
Consagrei-me ali,
e ali despedi-me daquela viagem.
Ancorei minha'alma naquela caverna.
E passei o resto das vidas orando pela humanidade.
Nunca salvei uma alma viva,
Mas instruí muitas a fazerem essa passagem.
Um dia eu volto de lá,
mas até esse dia chegar,
Darei a mão todas as tardes aos convidados
que desatinam ao ver a realidade.
O mundo é plural demais para quem despe-se, de mediocridades.


Essa imagem vive em mim,
eu vivo nessa imagem.
E toda a maldade terrena não será capaz de desfazê-la jamais.
Meu DNA existirá nos próximos mil anos, e com ele guardará o canto que eu ouvi essa noite das cordas que se cruzavam na floresta da minha alma e me enterneceram.
Toda a humanidade conhecerá a natureza de sua alma, e isso descongestionará as veias de toda uma história cega e torpe.
Eu vi muitas outras cenas esta noite,
Mas nenhuma me convenceu mais do que, o canto do araponga arranjado pelo berimbau.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

intempéries

DOMINGO DIA 23 DE JULHO DE 2017
o vento varre a poeira

O vento varre a poeira para dentro da minha sala.
As portas da varanda escancaram toda a rebeldia da vida lá fora.
O vento arrasta para dentro da minha casa toda a poeira roxa do oeste.
E me pega desprevenida sentada no sofá,
enraizada pela insônia das noites lactentes.

minha pele não transpira mais, sufoca.
A camada de pelo é agora uma casca vermelha enrijecida e rachada qual solo agrestil.


Petrificada ainda no sofá, sem conseguir descolar da nova camada de pele terrosa,
praguejo, enquanto ouço a tosse convulsa da minha cria no quarto ao lado.
Todos dormem,
porém eu, envelheço sob o céu seco e mortífero tenso.

Meu pensamento é saudoso.
Quem dera respirar sem engolir o ar ardiloso que entra pelas minhas narinas e arrasa todo o meu corpo. Enrijece meus alvéolos e resseca a minha língua.

Todos dormem.
E Eu espero a tosse da cria cessar, enquanto controlo a minha, com medo de que ele possa despertar.
E estremeço de horror com cada soco que seu frágil corpo recebe enquanto excreta toda a poluição do mundo grudada em seus imaculados pulmões.
Essa noite os anjos terão de dormir sozinhos,
pois a secura dos ares atingiu a nobreza da vila.
E despertou da noite intranquila a vida mais nova e franzina.
Embalo em meus braços cansados e trêmulos, o corpo pequeno.
Ele não reclama, não esbraveja, apenas libera o catarro poeirento de seus pulmões e nem mesmo pragueja contra o céu do sertão.

Eu, fêmea que sou, ataco todos os santos que permitem esse mal tempo.
Fosse eu maior que meu amor, sequestraria a Rainha dos Raios e faria ela chover até nossos vasos se encherem novamente e escorrerem pelas paredes toda a poeira acumulada.
Enquanto as ruas não virassem rios, de mim, ela não se livrava.
Mas fêmea minúscula que sou, apenas provoco.

Invoco sozinha o canto que aprendi quando criança, com a velha índia.

RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.
RAMAUÊ CHUVA CHUVA CHUVA.

Mas não chove,
nada escorre do céu.
 A única nuvem que havia, desfez-se.
Agora o sol volta e queima mais um dia que impulsiona a tosse que não mais se controla,
Meus olhos ardem,
meu filho chora.
petrifico no sofá,
e sonho com a umidade e o mofo que já quis amaldiçoar.

UMIDADE ABAIXO DE 30%, uma forma perversa de me castigar.

Juliana S. Müller.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Quand le temp est court.

Bonjour amigos leitores queridos, massageando a minha alma com a possibilidade de escrever. Todos os dias eu gostaria de registrar os poemas que construo aqui e ali, "mientras" faço algo que nada tem que ver com a poesia ou o ato de escrever. Mas, cada dia tem sido mais difícil registrar os versos, e os textos que componho aqui no topo da cabeça. Isso de não ter tempo... existe.

Eu não escrevo para ser compreendida,
Quando quero ser compreendida leio outras poesias.

Eu escrevo, porque quero ser tocada pelo pensamento que me lê.
Quero ser olhada, pelos olhos que não posso adivinhar.

Eu escrevo porque o chacoalhar dos galhos das árvores deve ser eternizado.
E a sombra que o sol do entardecer faz todos os dias na parede do meu quarto
é belo demais para não estar entre os versos que guardarei em meus retratos.

Eu escrevo menos, mas escrevo mais.
Sei tão menos sobre a literatura,
Sei tão mais sobre o que vem a ser depois dela.

Então escrevo para não esquecer como é que se constroem frases.
Quando o diálogo da fala é escasso,
O verbo aqui mal empregado, ganha força e libera a minha mente.

Por fim, eu escrevo pra ter certeza que as bocas que me beijam nos sonhos à noite
saberão da minha existência quando, o choro do filho me despertar pra realidade anônima.

Ora pois, não fosse a poesia, você nem repousaria seus olhos em mim neste dia.

Juliana S. Müller.